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Espanha cria primeiro banco de DNA para identificar desaparecidos da Guerra Civil

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postado em 20/08/2008 13:25
MADRI - Mais de 100 pessoas de diversos países do mundo contribuíram para criar, na Espanha, o primeiro banco de DNA que ajudará a identificar os corpos de seus familiares desaparecidos durante a Guerra Civil (1936-1939) e a ditadura de Franco (1939-1975). No dia 18 de agosto deste mês, a Casa de Cultura da localidade de Miranda de Duero, a 160 km a norte de Madri, encheu-se de gente de toda a Espanha, da França, Suíça, Itália e do Brasil, para onde muitos emigraram durante a guerra, contou Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH). No total, 110 pessoas se dispuseram a dar amostras da saliva para uma análise de DNA mitocondrial, que deve ser concluída no início de 2009. Elas acreditam que seus parentes que desapareceram durante a guerra estão enterrados em alguma das sete valas comuns da região, uma das quais será exumada em breve para a identificação de entre 30 e 50 corpos. "A Associação para a Recuperação da Memória Histórica está promovendo esta iniciativa que até agora só havia sido feita individualmente e que vai servir para os casos ainda não identificados ou para as novas valas que serão abertas", explicou. Trata-se de um modelo para identificar os desaparecidos da Guerra Civil e da ditadura e "um bom precedente que possivelmente será levado a mais sítios na Espanha", comentou o incentivador desta associação, criada há oito anos, que já exumou 110 valas, com 1.200 corpos, na Espanha. A ARMH possui dados da existência de quase 400 valas na Espanha. Enquanto isso, 5 mil pessoas desaparecidas naquela época são procuradas por seus familiares. A Guerra Civil Espanhola, na qual morreram mais de 500 mil pessoas, foi um conflito entre duas frentes militares, ocorrido na Espanha entre os anos de 1936 e 1939. A vitória coube aos nacionalistas de Francisco Franco. A Guerra Civil espanhola (1936-39) foi o acontecimento mais traumático que ocorreu antes da 2ª Guerra Mundial, estando presentes nela todos os elementos militares e ideológicos que marcaram o século XX. De um lado se posicionaram as forças do nacionalismo e do fascismo, aliadas as classes e instituições tradicionais da Espanha (O Exército, a Igreja e o Latifúndio) e do outro a Frente Popular que formava o Governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os partidários da democracia. Para a Direita espanhola tratava-se de uma cruzada para livrar o país da influência comunista e restabelecer os valores da Espanha tradicional, autoritária e católica. Para tanto era preciso esmagar a República, que havia sido proclamada em 1931, com a queda da monarquia. Para as Esquerdas era preciso dar um basta ao avanço do fascismo que já havia conquistado Itália (em 1922), a Alemanha (em 1933) e a Áustria (em 1934). Segundo as decisões da Internacional Comunista, de 1935, as esquerdas deveriam aproximar-se dos partidos democráticos de classe média e formarem uma Frente Popular para enfrentar a onda de vitorias nazi-fascistas. Desta forma Socialistas, Comunistas (stalinistas e troskistas) Anarquistas e Democratas liberais deveriam unir-se para chegar e inverter a tendência mundial favorável aos regimes direitistas. Foi justamente esse conteúdo, de amplo enfrentamento ideológico, que fez com que a Guerra Civil deixasse de ser um acontecimento puramente espanhol para tornar-se numa prova de força entre forças que disputavam a hegemonia do mundo. Nela envolveram-se a Alemanha nazista e a Itália fascista, que apoiavam o golpe do Gen. Franco e a União Soviética que solidarizou-se com o governo Republicano.

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