Três anos depois da passagem do furacão Katrina, Nova Orleans revive o pesadelo sob outro nome. Ainda está na lembrança a tragédia que inundou 80% da cidade, destruiu centenas de casas e matou 1.500 pessoas. Para a história não se repetir, a cidade se prepara para receber a tempestade tropical Gustav, que ontem tomou novamente a força de um furacão. Aos poucos, cada habitante começa a vedar portas e janelas antes de fugir para outros estados. Hoje e amanhã, Gustav deve atingir o sudeste da Jamaica e a parte ocidental de Cuba.
A linha de bonde que passava pela rua do brasileiro Alex Castro, 34 anos, foi reativada no mês passado. Eles se mudou para Nova Orleans duas semanas antes do furacão Katrina. E se viu em uma situação difícil: deixou a cidade às pressas, um dia antes da grande tempestade, teve de abandonar o cachorro Oliver (quie milagrosamente sobreviveu) e foi para um abrigo. "Agora, ninguém mais quer arriscar. Mesmo porque ninguém está confiante de que os diques foram totalmente reconstruídos", disse Alex ao Correio. Ontem de manhã, o estudante de doutorado e escritor fechou a casa, afastou os móveis da janela, alugou um carro e partiu para Nova York com uma caixa de documentos - e Oliver.
A cidade ainda não está totalmente recuperada, mas desta vez parece preparada. Em 2005, os moradores esperaram até o último minuto para deixar a cidade, porque o aviso veio tarde. Depois de Gustav ter causado mais de 80 mortes no Haiti e na República Dominicana, os alarmes começaram cedo. "Ontem, andei pela rua e tudo parecia tranqüilo. Mas você via gente colocando madeira para proteger as janelas. No mercado, mão tinha mais água engarrafada, e o preço da gasolina aumentou 20% de quinta para sexta", contou Alex.
Em todo lugar, só se falava em uma coisa: para onde e como se retirar. Na principal universidade da cidade, a Tulane, ônubus saíam de hora em hora para levar alunos ao aeroporto. As aulas foram suspensas até a próxima quinta. Depois da confirmação de que Gustav chegaria com a força de furacão da categoria 3, a ordem era sair da cidade. "A coisa mais importante, agora, é ter um plano de retirada. Não fique esperando o governo estadual ou federal cuidar de você", alertou em um comunicado Greg Southworth, diretor do departamento de emergência da universidade. "Nem todo mundo vai deixar a cidade. Quem mora aqui já está acostumado: faz parte da vida, como a seca em Brasília", comparou o brasileiro.
Retirada
O prefeito Ray Nagin afirmou que ninguém estará autorizado a permanecer na cidade quando Gustav atingir a força e o itinerário previstos. "Há ônibus, motoristas, aviões, trens. E toda uma estratégia diferente da última vez para retirar as pessoas, a começar pelas que têm necessidade de cuidados médicos especiais", declarou Nagin à CNN. Para evitar o mesmo fiasco da resposta ao Katrina, com atraso na divulgação de informações e entrega de ajuda, ontem mesmo o presidente George W. Bush declarou estado de emergência no estado de Louisiana. O Mississipi também corre o risco de ser atingido.
Gustav pode aumentar de intensidade quando chegar a Cuba. Segundo o Serviço de Meteorologia americano, a velocidade dos ventos deve aumentar nos próximos dois dias. Petroleiras que operam no Golfo do México começaram a retirar os funcionários, mas a Petrobras e outras resolveram aguardar os movimentos do furacão. A empresa brasileira informou que hoje de manhã será suspensa a produção da plataforma EC373, no campo de Cottonwood. O preço do petróleo pode aumentar ainda mais nos próximos dias.
O furacão pode atrapalhar até a Convenção Nacional Republicana, que será aberta na segunda-feira, em Minnesota (norte do país) para homologar a candidatura de John McCain à Casa Branca. O governador de Louisiana, Bobby Jindal, escalado para discursar na terça, depois da mulher do candidato, Cindy McCain, cancelou a viagem. "Minha primeira responsabilidade é aqui", disse em uma entrevista. "Enquanto o furacão tiver Louisiana como foco, é aqui que vou estar".