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Analistas elogiam retórica de Obama, mas lembram que propostas contrariam interesses do Congresso

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postado em 30/08/2008 10:56
;Eu não creio que o senador (John) McCain não se importe com o que está acontecendo na vida dos americanos. Eu apenas acho que ele não saiba.; As palavras de Barack Obama são uma amostra de como ele não poupou o adversário republicano no histórico discurso de aceitação da candidatura, na noite de quinta-feira. O ataque foi justificado com uma série de críticas ao presidente George W. Bush e com o inédito detalhamento dos planos para a consolidação do ;sonho americano;, como ele mesmo sugeriu no mote da campanha.

Consultados pelo Correio Braziliense, analistas de universidades americanas tradicionais rasgaram elogios ao pronunciamento de Obama, mas enfatizaram que a mudança defendida pelo democrata será confrontada com os interesses do Congresso e de lobistas. Os especialistas também duvidam da viabilidade de parte das propostas do primeiro candidato negro com chances reais de chegar à Casa Branca.

De acordo com Patrick McCarthy, cientista político da Universidade de Harvard, Obama acertou ao fazer comparações ;picantes; entre democratas e republicanos em um amplo espectro de temas, principalmente na economia e na política externa. ;Ele confirmou o que muitos já sabiam: Obama é um homem de substância e visão, um político que não vai fugir de uma briga;, disse.

E a briga começará na dura tarefa de convencer trabalhadores americanos comuns e a classe média de que Obama é ;um deles; e está familiarizado com seus anseios. Trechos do discurso comprovam a preocupação do democrata com a revitalização financeira ; a economia é um dos maiores fracassos do atual governo. Barack Obama anunciou a redução de tributos para trabalhadores e pequenos empresários, mas não para as grandes corporações, como na gestão de Bush.

Professor da Universidade de Berkeley, Robin Lakoff lembra que um presidente Obama não será capaz de transformar sua retórica em políticas concretas se tiver a oposição do Congresso. ;Muitos dos deputados e senadores não demonstrarão vontade de aprovar a reforma tributária, o que obrigará Obama a convencer os colegas democratas e os republicanos moderados;, observou. ;Será preciso submeter as mudanças prometidas a uma série de alterações, antes que elas se tornem leis, graças ao conservadorismo básico do Capitólio e à pressão dos lobistas e financiadores de campanha.;

Corrupção
O ceticismo também é a tônica da análise de Julian Zelizer sobre o plano econômico de Obama. O especialista da Universidade de Princeton prevê ;muitos problemas; com a mudança da carga tributária e lembra que a reforma de impostos quase sempre esbarra no desvio do dinheiro. ;Vazamentos de verbas e isenções fiscais difíceis de mudar não são assuntos que mobilizam os eleitores;, afirmou. ;Sem uma reforma política, esses serão temas mortos.; Será mais fácil para o democrata encampar as ambiciosas propostas para energia e meio ambiente, que incluem o fim da dependência de petróleo do Oriente Médio, o fomento de tecnologias limpas e a produção de biocombustíveis. Por haver forte interesse bipartidário nessas áreas em Washington, os democratas poderão usá-las para alargar as bases políticas e até apelar aos republicanos.

A euforia medida pela ampla cobertura positiva da mídia mundial coincide com a análise dos especialistas. Zelizer acredita que o discurso de Obama apresentou uma retórica poderosa e eficiente. ;Ele apelou para promessas sem partidarismo e para políticas específicas, mas precisará fazer mais para se definir, já que McCain é bastante conhecido na vida pública americana;, comentou o analista de Princeton. Lakoff concorda que o democrata fez um ;trabalho muito bom e preciso;, ao esclarecer sua ;lista de desejos;. ;Ele se mostrou não como um liberal de olhos arregalados, mas um homem aberto à mudança real;, concluiu.

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