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UE supera divergências sobre crise georgiana, mas não impressiona a Rússia

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postado em 02/09/2008 12:52
BRUXELAS - Os países da União Européia (UE) conseguiram na cúpula de Bruxelas de segunda-feira superar suas divergências em torno do conflito da Geórgia, mas seguem em posição de fraqueza frente à Rússia. Desde 2004 dividida entre países da Europa Ocidental de um lado e do Leste Europeu de outro sobre a Rússia, "a UE conseguiu encontrar um equilíbrio entre a necessidade de responder às ações russas e a vontade de manter seu papel de mediadora", considerou o analista Antonio Missiroli, do Centro de Política Européia, com sede em Bruxelas. A suspensão das negociações sobre uma nova "associação estratégica" com a Rússia, única medida anunciada na segunda-feira pelos líderes europeus, é "puramente simbólica", pois essas discussões ainda devem durar muitos meses. "Mas é a primeira vez que se adota uma medida diplomática restritiva contra a Rússia", acrescentou Missiroli. Natalia Keshchenko, especialista do Instituto Global Insight, também considerou que a decisão da União Européia foi "sábia e habilmente executada, por mostrar que a UE leva o assunto a sério evitando radicalizar a situação". A especialista reconheceu, no entanto, que a Rússia também tem razões para comemorar, como fez a imprensa russa nesta terça-feira pela manhã, porque "conseguiu convencer os europeus de que as sanções comerciais não beneficiariam nenhuma das duas partes". Andrew Wilson, do Conselho Europeu para as Relações Exteriores com sede em Londres, considerou que a UE deveria ter ido mais longe com suas medidas, por exemplo, revisando certos privilégios comerciais estabelecidos com a Rússia no acordo de associação atualmente em vigência. Se a UE, começando por Alemanha e França, "evoluiu" no sentido de um endurecimento de sua posição frente à Moscou, "ainda se encontra em uma posição muito desfavorável", segundo esse especialista. Outro especialista, Tanguy Struye, do Centro de Estudos das Crises e Conflitos Mundiais da Universidade Católica de Louvain, foi ainda mais pessimista. Para ele, os europeus chegaram apenas a "um compromisso mínimo" ao congelar negociações "que de qualquer maneira não avançam em direção alguma". Para Struye, a UE poderia ter atuado de maneira mais firme, acenando, como os norte-americanos, com a ameaça de uma suspensão das reuniões do G8 (os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia). Os líderes da UE também se mostraram muito reticentes sobre a famosa política energética européia, limitando-se a reiterar que a crise da Geórgia ilustrava "a necessidade de a Europa intensificar seus esforços em matéria de segurança do abastecimento" de gás e petróleo, afirmou Strye. Segundo Stryer, nunca haverá uma política comum nesse setor, já que "cada país europeu continua assinando em separado acordos com a Gazprom", gigante produtora de gás ligada ao Kremlin. Em suma, muitos analistas consideraram que a Rússia se mantém "em posição de força" após a reunião de cúpula de Bruxelas e que a UE tem poucas "sanções" a sua disposição caso Moscou decida manter suas tropas na Geórgia. O equilíbrio atingido na reunião é "precário" e "será difícil mantê-lo se a Rússia não fizer concessões", reconheceu neste sentido Antonio Missiroli.

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