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Presidente da Angola: um Maquiavel moderno no comando do país há 29 anos

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postado em 03/09/2008 13:04
LUANDA - O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, é uma personalidade enigmática dotada de grande perspicácia política que transformou a Presidência em uma instituição onipresente. Este marxista pragmático, que abriu a ex-colônia portuguesa à economia de mercado para facilitar a reconstrução de um país esfacelado por 27 anos de guerra civil, fez um apelo a seus compatriotas para que participem maciçamente das primeiras eleições legislativas em tempos de paz. "Não fiquem em casa no dia 5 de setembro. Contribuam para reforçar nossa democracia", disse. As eleições de sexta-feira são uma prova de popularidade para o presidente de 66 anos antes das presidenciais de 2009. Em 1992, durante as únicas eleições realizadas desde a independência, dos Santos obteve 49,57% dos votos contra 40,07% do líder do movimento rebelde Jonas Savimbi, que rejeitou este resultado e retomou as armas. Somente a sua morte em 2002 pôs fim ao combate. O presidente angolano ganhou nesses anos de luta uma misteriosa postura no poder. De olhar plácido e tom mesurado, limita suas aparições públicas, viaja pouco e poucas vezes concede uma entrevista. "Se você retém a informação sobre o funcionamento do sistema político é uma forma de controlá-lo", ressalta Nicholas Shaxson -autor de um livro sobre os Estados petroleiros da África. Este engenheiro formado na União Soviética "é um mestre do jogo político", acrescenta. Nascido no dia 28 de agosto de 1942 de pai pedreiro e mãe faxineira, dos Santos cresceu em Sambizanga, bairro pobre de Luanda, núcleo da luta clandestina contra Portugal, embora só tenha participado brevemente da luta armada, em 1961. Dos Santos entra para o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Em 1963 recebe uma bolsa para estudar em Baku, no Azerbaijão, onde se forma em Engenharia e se casa com uma soviética. Atualmente é casado com Ana Paula, uma angolana 18 anos mais nova, e é pai de seis filhos. Em 1974 integra o comitê central do MPLA, antes de se tornar em 1975 chefe da diplomacia na independência. Como herdeiro do primeiro presidente angolano é nomeado vice-primeiro-ministro e, após a morte de seu mentor em 1979, é eleito presidente do MPLA e assume o posto de presidente do governo e comandante-chefe das Forças Armadas. "O presidente é o centro de uma rede de clientelismo que o permite apaziguar os conflitos de interesse e reforçar sua posição", ressalta o The Economist.

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