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Moradores de Sichuan contam como é a vida em barracas fornecidas pelo governo

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postado em 04/09/2008 08:44

Chengdu (China) ; Toda tragédia tem um símbolo. Pode ser uma pessoa, uma imagem, uma música ou simplesmente dezenas de milhares de tendas azuis. Quem deixa Chengdu, a capital da província de Sichuan, e parte para as zonas mais atingidas pelo terremoto de 12 de maio, se depara com um cenário repleto dessas barracas. Elas estão por todos os lados, sozinhas ou em grupos, montadas nos mais diversos lugares, nas cidades, nas montanhas e nas beiras das estradas. Para muitos dos sobreviventes da tragédia que matou ou deixou desaparecidos quase 90 mil chineses, as tendas azuis, por ora, são tudo o que restou da vida pré-tremor. Segundo dados oficiais, 10 milhões de chineses foram afetados diretamente pelo abalo principal e suas réplicas. E o número de pessoas que não puderam mais retornar às suas casas ainda impressiona, mesmo quase quatro meses depois do desastre. Conheça as tendas distribuídas aos desalojados

Diante da impossibilidade de o governo erguer abrigos de emergência a tempo de dar um teto a todos os desalojados (o número de abrigos já ultrapassa 480 mil), as tendas foram a solução encontrada. E elas já somam 245.954, de acordo com o levantamento mais recente. Aos 39 anos, He Jia Shan é um dos que vivem em uma tenda doada pelo governo. Ele contou que estava em um hospital de Dujiangyan quando o terremoto teve início. ;Eu estava para ter alta, me recuperando de uma cirurgia, quando tudo começou a tremer;, recordou. Morador de uma vila na região montanhosa perto do epicentro do tremor de 8 graus na escala Richter, He Jia contou que não conseguiu voltar para casa imediatamente e que, quando finalmente chegou, dias depois, recebeu uma notícia chocante. ;Depois do terremoto começou a chover bastante, com muita força, e a gente não tinha como chegar às montanhas. Só pude voltar no dia 14. Quando cheguei em casa, descobri que a minha mãe tinha morrido;, lamentou. Em Xuan Kou, uma pequena cidade também situada em um terreno montanhoso e distante cerca de 80km de Chengdu, vivem cerca de mil pessoas. Muitas delas hoje são moradoras das tendas, já que os prédios locais estão quase todos interditados e muitas casas também se encontram condenadas. Resignação ;A terra toda estava se mexendo para um lado e para o outro e a gente não conseguia ficar de pé. A gente levantava e caía de novo. Muitos começaram a chorar;, contou uma senhora que vive em Xuan Kou. ;Depois do terremoto, fomos a um abrigo porque as pedras podiam cair das montanhas a qualquer momento. Mas, após esse risco, as tendas passaram a ser nossa casa. Não sei até quando vou ficar aqui. Pelo menos tenho um lugar. Poderia ter sido pior.; A opção pelas tendas chegou a provocar uma crise na China, já que o número dessas instalações disponíveis no país não era suficiente para todos os desabrigados nos dias seguintes à tragédia. Duas semanas após o terremoto, no final de maio, a situação ficou desesperadora e as autoridades chinesas tiveram de fazer um apelo para que mais tendas fossem enviadas às áreas atingidas. ;A maior dificuldade agora é a falta de tendas de campanha. Reunimos tendas de todo o país e temos recebido ajuda do resto do mundo, mas ainda precisamos de mais;, declarou, à época, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. Como resposta, as fábricas chinesas começaram a trabalhar em ritmo acelerado e, ao que parece, hoje o problema está solucionado. Todos os desabrigados estão ou nas tendas ou nas vilas onde casas de abrigo foram montadas em caráter de emergência. Para He Jia Shan, a natureza não tinha motivos para ser tão impiedosa com os chineses. ;Acho que o terremoto foi muito cruel e horrível com a gente;, lamentou. ;Ele destruiu nossas vidas. Eu perdi a maior parte das cabras que criava e também perdi a minha mãe. A vida, agora, ficou muito difícil;, encerrou o pecuarista, antes de voltar para sua barraca. Três meses no escuro O terremoto de 12 de maio na China afetou diversos setores da sociedade. Mas certamente Wang Ping, o gerente-assistente da Companhia Elétrica da Província de Sichuan, nunca mais dormiu tranqüilo depois daquele dia de devastação. A falta de energia foi um dos entraves que o povo chinês atingido pela catástrofe teve de encarar. O gerente contou que quase 3,5 milhões de pessoas enfrentaram problemas no recebimento da energia elétrica porque a companhia foi seriamente afetada pelo tremor. Wang Ping afirmou que 326 funcionários morreram ou ainda estão desaparecidos e que outros 320 ficaram feridos, 90 dos quais seguem em estado crítico. ;O terremoto fez a companhia perder 10,65 bilhões de yuans (pouco mais de R$ 2,5 bilhões) até aqui, e o dinheiro que terá de ser gasto para reconstruir as fábricas está estimado em 33,6 bilhões de yuans;, revelou Ping. Como várias centrais de energia foram danificadas, a principal preocupação dos diretores era que a falta de eletricidade não prejudicasse ainda mais os trabalhos de resgate. Muitos locais eram de difícil acesso, e o tempo, na maioria das vezes, não contribuiu nos dias que se seguiram à tragédia. ;Mil geradores foram enviados às áreas mais prejudicadas para ajudar nos resgates. Quatro mil caminhões e 20 mil funcionários da companhia se envolveram mais tarde nas operações;, declarou. O diretor contou que a empresa buscou agir o mais rápido possível com os recursos disponíveis. Em 27 de maio, 164 vilas e cidades já estavam com o abastecimento de eletricidade normalizado. Ping celebrou uma vitória obtida no mês passado. ;Em 8 de agosto, dois dias antes do previsto, todas as áreas afetadas voltaram a ter eletricidade, incluindo as 245.954 tendas e os 480.127 abrigos de emergência;, garantiu. Preocupação No entanto, apesar dos números favoráveis, Wang Ping deixou claro que não há muito o que comemorar, pois os próximos meses prometem ser desafiadores. ;Todos nós tentamos o nosso melhor, mas por conta dos outros tremores e das rochas de caíram das montanhas, 12 pontos de retransmissão e conversão de energia ainda não foram recuperados, e 162 linhas de transmissão precisam ser redesenhadas;, adiantou. O diretor admite que Sichuan ainda atravessará um período difícil. ;Nós enfrentaremos muitas dificuldades com nossos equipamentos. O terremoto foi tão forte que muitos de nossos geradores foram destruídos. E eles não podem ser recuperados em um curto espaço de tempo;, revelou. Mas não é só no campo da manutenção dos geradores que a Companhia Elétrica da Província de Sichuan vislumbra um horizonte problemático. ;Enfrentaremos uma realidade complicada no futuro porque a temperatura se elevou muito, e os moradores passaram a utilizar cada vez mais o ar-condicionado, o que sobrecarrega o sistema. Tivemos um aumento de 18% no consumo em relação ao ano passado. Na primavera e no inverno, é possível que o nível da água para gerar energia não seja suficiente.; Em 2008, a China viu seu povo ser castigado de várias formas. Primeiro por um inverno rigoroso que deixou centenas de milhares de pessoas isoladas e causou várias mortes. Depois, por um terremoto avassalador cujo rastro de destruição comoveu o mundo. Então vieram as chuvas torrenciais no sudoeste do país que deixaram milhares de chineses desabrigados. Ainda assim, a nação recebeu de maneira competente e com calor humano delegações de 204 países nas Olimpíadas de Pequim. Nas cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, os chineses apresentaram para seus convidados e fãs do esporte um dos espetáculos mais marcantes deste ano em todo o planeta. Encerradas as Olimpíadas e ainda tendo mais um desafio pela frente, as Paraolimpíadas, os chineses merecem um 2009 melhor. E o que todos esperam é um pouco mais de generosidade da natureza para com esse país que, neste ano, se tornou notícia em todo o mundo ; seja brilhando com o show de organização nos Jogos, dos quais foram os grandes vencedores, ou sofrendo com tantas provações.

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