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Angola vai pela primeira vez às urnas desde o fim da guerra civil

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postado em 04/09/2008 13:32
LUANDA - Nesta sexta-feira os angolanos vão às urnas em eleições legislativas pela primeira vez desde o fim da guerra civil (1975-2002), após uma campanha dominada pelo partido do presidente José Eduardo dos Santos. Cerca de oito milhões de eleitores devem eleger 220 deputados dos 14 partidos e coalizões políticas, entre eles o Movimento Popular de Liberação de Angola (MPLA) -no poder desde à independência da ex-colônia portuguesa em 1975- e a antiga rebelião da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Os angolanos não votam desde 1992, quando as eleições gerais foram realizadas graças a uma trégua na devastadora guerra civil gerada pela independência. Mas o líder da Unita, Jonas Savimbi, se recusou a aceitar os resultados que o davam como perdedor e retomou as armas. O conflito acabou somente quando ele morreu. "Angola está numa situação completamente diferente", disse Rui Farcao Pinto de Andrade, diretor de Informação e Propaganda do MPLA. "Sairemos deste processo em paz olhando para o futuro". "Queremos que as eleições sejam pacíficas e que as pessoas esqueçam o que aconteceu em 1992", declarou Carlos Morgado, um representante da Unita para a província de Luanda. No entanto, a oposição evoca um "clima de ameaça, intimidação e violência", contra seus partidários, que deixou segundo a Unita quatro mortos em suas filas. "Mentira", respondeu Pinto de Andrade, que acusa a oposição de se fazer de vítima porque sabe que sua representatividade será reduzida no Parlamento. "A Unita não tem nenhuma chance", disse também Hussein Salomon, diretor do centro de Estudos Políticos Internacionais, da África do Sul. "O MPLA vem de uma ideologia stalinista e é contra qualquer oposição", explicou Hussein Salomon, falando do "controle dos meios de comunicação, das intimidações e do uso do dinheiro público para financiar a campanha". A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW, com sede em Nova York), expressou suas "dúvidas sobre a realização de eleições livres e justas em Angola, devido aos partidos da oposição e à imprensa". O presidente Eduardo dos Santos negou há alguns dias estas acusações. "Alguns partidos têm dificuldades para transmitir suas mensagens e por isso falam de intolerância e de má vontade", afirmou. As próximas eleições serão uma prova de popularidade para o chefe do Estado angolano, antes da eleição presidencial de 2009, para a qual Santos ainda não é candidato oficial. O presidente, em geral muito discreto, vem multiplicando há um mês as inaugurações de instalações públicas (hidrelétrica, hospital, escolas), insistindo no processo realizado em termos de reconstrução. Angola, que dispõe de reservas de petróleo enormes, vem se beneficiando da alta dos preços do petróleo. Além disso, deve registrar crescimento econômico de mais de 20% em 2008. Com cerca de dois milhões de barris por dia, a Angola disputa com a Nigéria o primeiro lugar como produtor de petróleo do continente. Apesar do surgimento da classe alta, dois terços da população vive abaixo do nível de pobreza. Alguns analistas consideram que as crescentes desigualdades poderiam diminuir a amplitude da vitória do MPLA. A União Européia, EUA e a Comunidade de Desenvolvimento da África do Sul enviaram observadores para as eleições.

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