Sucessão nos EUA: McCain no ataque

Candidato republicano à Casa Branca fala na convenção partidária buscando a comparação de propostas com o rival, Barack Obama, e exaltando as credenciais de soldado em ;um mundo cheio de perigos;

postado em 05/09/2008 07:49

John McCain não preparou um megaevento em um estádio para aceitar a nomeação. Tampouco conseguiu reunir 80 mil pessoas para assistirem ao discurso mais importante de sua campanha. Entretanto, soube aproveitar o clima de empolgação produzido pelo pronunciamento de sua vice, Sarah Palin, na noite anterior. Horas antes de falar aos apoiadores, o candidato providenciou mudanças no palco do Xcel Energy Center, que possibilitaram maior proximidade com o público. Trocou os constantes ataques a Barack Obama por comparações entre propostas e recebeu com algum bom humor manifestações individuais contra ele. Abusou dos elogios a si mesmo e das frases de efeito para arrancar aplausos ; uma clara tentativa de demonstrar que, como o rival, também é bom de palanque. Ouça entrevista com Saulo Londoño, gerente da campanha de McCain no condado de Orange (Califórnia) Em cerca de 50 minutos de discurso, que começou por volta das 23h10 (hora de Brasília), o republicano se apresentou como um candidato que não coloca o partido à frente do país, e que, como seu rival, também deseja mudanças em Washington. ;Repetidamente, trabalhei com membros dos dois partidos para resolver os problemas que precisavam ser resolvidos. É assim que vou governar como presidente;, disse. ;Deixo um aviso ao grupo velho, esbanjador, faz-nada, ;eu primeiro, país depois; de Washington: a mudança está por vir;, declarou, se distanciando do establishment do qual faz parte há mais de 20 anos. Ao contrário das últimas semanas, quando concentrou esforços em desqualificar o rival, McCain fez ontem poucas menções a Obama, sempre comparando suas propostas. ;Meus cortes de impostos vão criar empregos. O aumento de impostos dele (Obama) vai eliminar empregos.; McCain passou boa parte do discurso relembrando suas credenciais como prisioneiro e herói de guerra e reafirmando a competência da companheira de chapa, Sarah Palin. De acordo com o republicano, sua experiência faz com que ele seja a melhor opção para garantir a segurança do país contra a ameaça terrorista. ;Nós enfrentamos muitas ameaças neste mundo perigoso, mas eu não tenho medo delas. Estou preparado para elas;, afirmou. De acordo com o cientista político William Allen, da Michigan State University, era esperado que o candidato abordasse o discurso do medo em sua fala. ;McCain tem se dedicado a ressaltar os interesses de segurança dos Estados Unidos e a importância de manter a confiança da população no governo. Desta vez, não será diferente;, previu Allen, horas antes do pronunciamento. Os oradores na Convenção Republicana seguiram essa linha durante toda a tarde de ontem. Otimismo Para o brasileiro Saulo Londoño, 27 anos, que é gerente de campanha de John McCain no condado de Orange (sul da Califórnia), ;McCain é muito melhor em conversar com a audiência do que em discursar. Por isso, eles mudaram o palco, para transformar o pronunciamento em uma grande conversa;, destacou. Residente nos Estados Unidos há 11 anos, Londoño se tornou republicano há menos de quatro, quando percebeu que o partido ;tentava fazer alguma coisa; em relação à guerra do Iraque, enquanto os democratas ;só criticavam;. Hoje, não tem dúvidas sobre quem será melhor para os EUA. ;McCain é o tipo de presidente de que o país precisa neste momento de terrorismo, em que a Rússia está querendo mostrar os músculos. Não está na hora de dar uma chance a um candidato que não tem experiência nenhuma.; Ouça entrevista com Saulo Londoño, gerente da campanha de McCain no condado de Orange (Califórnia) Discurso de Sarah é recebido com entusiasmo Os elogios que Sarah Palin recebeu ontem da imprensa norte-americana se aproximaram da reação extasiada dos republicanos após o discurso da governadora do Alasca, na quarta-feira. Para a base ultraconservadora do Partido Republicano, a apresentação da candidata, ;que traz uma energia incomum;, foi um sucesso. No entanto, críticos argumentam que é fácil discursar para o partido, durante a Convenção Nacional Republicana. Difícil será usá-la para atrair independentes e feministas democratas insatisfeitas com a derrota de Hillary. Sarah arrancou aplausos da platéia em St. Louis (Missouri), ao falar de sua vida no Alasca e apresentar sua família. Ouviu gritos de apoio ao prometer uma política energética agressiva nos Estados Unidos. Foi ovacionada quando denunciou a mídia e a ;elite de Washington;. ;As pessoas na platéia da convenção já foram vendidas. Elas são o coro;, afirmou John C. Danforth, o ex-senador republicano de Missouri. ;Agora, Sarah e McCain têm de estudar como tornar a mensagem mais clara ao povo americano;, completou. Comentaristas políticos lembram que Sarah tem pela frente uma campanha nacional, durante a qual discursará para públicos que não necessariamente são a favor dela. Em alguns momentos, será testada por suas habilidades políticas e também pela experiência em diversos assuntos, e terá de convencer o país que está pronta para ser vice-presidenta. As manchetes dos jornais norte-americanos estavam repletas de ;Ela chutou! Ela marcou!”, como destacou o Washington Post, que considerou o discurso da vice de John McCain um evento político bem-sucedido. Renovação ;Sarah Palin saiu da sombra na quarta à noite, e, que bom, ela parecia renovada;, comentou o New York Times de ontem, que dizia na primeira página: ;Sob os holofotes, Palin eletrizou a convenção;. O conservador Wall Street Journal anunciou a descoberta dos republicanos de ;sua Margaret Thatcher;. O discurso de Sarah não deixa dúvidas de que ela retomará os ataques aos rivais. Nem tão certo assim é saber se a governadora seguirá com a ironia, combinada com a falta de falas sobre questões políticas, que pode afastar eleitores independentes e feministas. Aos olhos dos democratas, que responderam às críticas ;desonestas; da republicana, ;Sarah falou o que a equipe de McCain pediu para ela falar;. ;Para alguém que defende não ser de Washington, ela parecia se encaixar muito bem lá;, disse David Alxerod, estrategista do democrata Barack Obama.