postado em 08/09/2008 08:40
JERUSALÉM - A recomendação da polícia israelense de indiciar Ehud Olmert por corrupção é o tiro de misericórdia no primeiro-ministro de Israel, cuja margem de manobra para governar o país diminui à medida que se aproxima a data de sua saída. Apesar da recomendação não ter conseqüências imediatas nem obrigação legal, a imprensa israelense afirma a "era Olmert acabou", já que o premiê será levado à justiça, embora o processo vá demorar vários meses.
No momento, o governo está paralisado por divergências internas que aumentam com a aproximação do fim de seu mandato, incapaz de tomar decisões difíceis sobre o processo de paz com os palestinos ou com a Síria. Olmert foi inclusive incapaz de convencer o próprio gabinete a discutir um projeto de compensações financeiras para os colonos que desejam sair da Cisjordânia ou abandonar os assentamentos isolados para morar nos blocos de colônias que Israel pretende anexar.
"Se estivesse no lugar do primeiro-ministro, eu abandonaria imediatamente as funções. É correto que não tem a obrigação de fazê-lo, porém nem tudo o que é legal está abençoado", afirmou o ex-juiz da Suprema Corte Yitzhak Zamir. O jornal Maariv acusa a Olmert de "não entender que não dispõe de um mandato para governar" e que com seu comportamento está "deixando atrás dele uma terra arrasada".
Para outro grande jornal, o Haaretz, "a cara de Olmert deveria cair de vergonha", enquanto o Yediot Aharonot destaca que não há mais dúvida de que o premiê será indiciado, mesmo que seja por acusações menos graves que as de corrupção.
Olmert, que sob a pressão da opinião pública já prometeu renunciar em meados de setembro, depois das primárias do partido Kadima, revelou que não pretende deixar o cargo antes do tempo. O conselheiro de Olmert Amir Dan reiterou a alegação de inocência do primeiro-ministro e acusou a polícia de ter apresentado recomendações "sem o menor valor legal" para justificar uma investigação, que segundo ele, não avança.
A polícia anunciou no domingo que obteve provas suficientes para propor o indiciamento de Olmert por "corrupção" e "abuso de confiança" em dois dos seis casos em que está envolvido. Embora a polícia possa recomendar a adoção de ações legais contra o premiê, somente o procurador geral do Estado, Menahem Mazuz, pode tomar a decisão de um indiciamento.
Mesmo depois de renunciar, Olmert deve permanecer no cargo até a formação de um novo Executivo. Corresponderia ao presidente, Shimon Peres, pedir ao próximo líder do Kadima que constitua um governo. A atual legislatura só deve ser concluída no fim de 2010.