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Governo dos EUA pode intervir em outros setores após hipotecárias, diz jornal

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postado em 08/09/2008 18:11
A intervenção do governo dos EUA na Fannie Mae e na Freddie Mac -- duas das principais empresas hipotecárias do país, responsáveis por cerca de metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a habitação no país-- pode ser a primeira de ações do governo em outros setores, segundo reportagem do "The Wall Street Journal" ("WSJ"). De acordo com o texto, no site do jornal, o governo americano estuda uma forma de estreitar a regulamentação no setor de cartões de crédito e de eventualmente dobrar os empréstimos ao setor automobilístico para US$ 50 bilhões. "Nos próximos anos, o governo vai estudar como regulamentar as emissões de gases causadores do efeito estufa e como refazer as gigantes hipotecárias de modo a que não possam mais acumular débitos a ponto de ameaçar a economia", diz a reportagem. "Fannie e Freddie foram nacionalizadas, ao menos por enquanto", disse ao "WSJ" o ex-membro do Federal Reserve (Fed, o BC americano) Ted Truman. "Mas não sabemos o que irá substituí-las.". "A intervenção nas duas empresas hipotecárias "marca a volta do ativismo do governo", após outras ações do poder público, diz a reportagem. "Os atentados terroristas de 2001 levaram à nacionalização dos funcionários de aeroportos. Os escândalos corporativos, mais ou menos na mesma época, que envolveram a Enron e a WorldCom, levaram à Lei Sarbanes-Oxley em 2002, que aumentou a regulamentação sobre as empresas e executivos-chefes.". A posição atual contrasta contrasta com as quase duas décadas após Ronald Reagan (1980-1988) assumir a Casa Branca, quando o mercado estava em clara ascendência, diz o texto. "Mesmo depois do colapso das ´savings & loans´ [instituições assemelhadas à caderneta de poupança brasileira] nos anos 80, no qual o governo injetou US$ 125 bilhões para salvar essas empresas, não houve abalo na ampla convicção de que as forças do mercado deveriam ser apenas levemente restritas, se tanto.". O jornal ainda destaca a decisão do Congresso americano de autorizar uma linha de crédito de US$ 25 bilhões a juros baixos para o setor automotivo para a reforma de unidades de produção para a fabricação de modelos mais eficientes em termos de consumo de combustível. O setor ainda tenta obter junto ao Congresso autorização para ampliar essa linha de crédito para US$ 50 bilhões. Entre o final dos anos 70 e o início dos 80, a Chrysler obteve créditos no valor de US$ 1,5 bilhão para saldar suas dívidas. Fannie e Freddie A Fannie Mae e a Freddie Mac operam como entidades autônomas do governo, mas com seu apoio em garantias. Segundo o Tesouro, Fannie Mae e a Freddie Mac emitiram US$ 5 trilhões em títulos apoiados por dívida e hipoteca, e mais de US$ 3 trilhões destes fundos estão nas mãos de instituições financeiras dos EUA, enquanto o restante é de instituições estrangeiras. A ação foi a maior do governo americano já feita para evitar a paralisação da economia do país. O setor imobiliário dos EUA enfrenta uma severa crise provocada por uma inadimplência elevada em operações de hipoteca de alto risco ("subprime"), agravada em agosto do ano passado. A crise, que que se espalhou pelo restante do setor financeiro, está na origem da recessão que ameaça a maior economia do planeta. O secretário do Tesouro do EUA, Henry Paulson, informou que as duas companhias passam a ser dirigidas em caráter temporário pela FHFA (sigla em inglês para Agência Financeira Federal de Casas), que vai gerir as dívidas financeiras. "Fannie Mae e Freddie Mac são tão grandes e tão importantes em nosso sistema financeiro que a falência de qualquer uma delas provocaria uma enorme turbulência no sistema financeiro de nosso país e no restante do globo", afirmou. O diário britânico "Financial Times" ("FT") informou hoje que a ação do governo americano reacendeu o apetite nos mercados financeiros no mundo todo por investimentos de risco. Segundo a reportagem, a ajuda do Departamento do Tesouro afastou momentaneamente o temor de que uma das duas (ou mesmo ambas) falisse, o que ajudou a restaurar a confiança dos investidores, diz o texto. Crise e estabilização A crise no setor imobiliário americano já provocou perdas de bilhões de dólares a bancos como Citigroup e UBS. Em agosto, a Fannie Mae anunciou um prejuízo de US$ 2,3 bilhões no segundo trimestre deste ano, mais de três vezes maior do que o esperado pelos analistas. A Freddie Mac também teve um prejuízo acima do esperado no trimestre, com perdas de US$ 821 milhões. A estabilização do mercado imobiliário americano, no entanto, ainda não está à vista, segundo analistas. A MBA (Associação de Bancos de Hipoteca, na sigla em inglês) informou na sexta-feira (5) que os números de despejos e de hipotecas com atraso nos EUA atingiram níveis recorde no segundo trimestre: segundo a associação, a parcela de imóveis com hipotecas com ao menos um pagamento em atraso atingiu a marca recorde de 6,41%, contra 6,35% no primeiro trimestre do ano. Já o número de novos processos de execução de hipoteca atingiu 1,19% do total, ficando acima da marca de 1% pela primeira vez nos 29 anos em que a pesquisa é feita. O total de imóveis em algum estágio do processo de execução de hipoteca ficou em 2,75%. Outro indicador, o índice S/Case-Shiller --um dos de maior peso no mercado imobiliário americano-- mostrou dados negativos: o indicador mostrou, no fim do mês passado, que os preços dos imóveis residenciais nos EUA tiveram uma queda recorde, de 15,4% no segundo trimestre, na comparação com o mesmo período de 2007. No primeiro trimestre do ano, a queda havia sido de 14,2%. A NAR (Associação Nacional dos Corretores de Imóveis, na sigla em inglês) também informou no fim de agosto que as vendas de casas já existentes nos EUA tiveram uma alta de 3,1% em julho. Segundo a associação, as vendas atingiram um patamar anualizado de 5 milhões de unidades. A expectativa dos analistas era de uma alta de 1,6%. Na comparação com julho de 2007, no entanto, as vendas ainda estão 13,2% menores.

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