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Bento XVI vai encarar o mundo acadêmico e laico em Paris

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postado em 11/09/2008 10:34
CIDADE DO VATICANO - O Papa Bento XVI vai encarar na sexta-feira em Paris o mundo da cultura e acadêmico francês, com o qual abordará um dos temas mais polêmicos e importantes de seu curto pontificado: o papel do cristianismo na sociedade contemporânea. Dois anos depois da memorável dissertação pronunciada aos acadêmicos da Universidade alemã de Ratisbona, que gerou fortes tensões com o mundo muçulmano ao ter relacionado fé, razão, violência e Islã, Bento XVI conversará com cerca de 700 intelectuais franceses sobre vários assuntos espinhosos. Brilhante teólogo, autor de vários livros, Bento XVI presidirá uma conferência no dia de sua chegada à capital francesa, em 12 de setembro, a um seleto público de intelectuais no Collège des Bernardins, centro de pesquisa e debate da Igreja católica francesa. "Este será sem dúvida um momento grandioso", comentou um prelado italiano. "A viagem para a França permitirá ao Papa voltar a falar de um tema chave de seu pontificado, que é o papel da religião em nível público nas sociedades ocidentais, num momento em que o cristianismo tem se enfraquecido", explicou à AFP Marco Politi, vaticanista do "La Repubblica". Bento XVI considera que o cristianismo no mundo de hoje deve servir de "ponto de referência porque o povo perdeu a confiança na razão". O peso e os valores da religião católica na sociedade moderna serão analisados pelo Papa alemão também no mesmo dia com o presidente francês, Nicolas Sarkozy. "O Papa pronunciará um discurso claro sobre um laicismo sadio e também dirá palavras luminosas sobre a cultura ao mundo acadêmico", antecipou o cardeal francês Jean Louis Tauran, presidente do pontifício conselho para o diálogo inter-religioso, que acompanhará o Papa durante a viagem à França. O conceito de "laicismo positivo" defendido por Sarkozy com o mesmo Pontífice durante seu primeiro encontro no Vaticano em dezembro de 2007 foi muito bem recebido pela hierarquia da Igreja, que espera passos nesta direção. "Esperamos que este conceito de laicismo, aberto à religiosidade, passe aos poucos para os fatos", declarou o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, ao jornal católico francês La Croix. Bento XVI, que foi eleito quando era cardeal em 1992 pela prestigiosa Academia das Ciências Morais e Políticas da França sucessor do dissidente russo Andrei Sajarov, é um admirador da cultura clássica francesa e fala perfeitamente o francês. Após ser eleito ao trono de Pedro em 2005, Bento XVI lançou uma verdadeira campanha contra o laicismo e o relativismo que assola sobretudo a Europa, temas centrais de seus discursos mais importantes. Suas posições, tachadas por alguns de conservadoras, desatou a ira do mundo muçulmano em 2005, assim como de setores puramente universitários, como ocorreu em janeiro deste ano, quando teve que desistir de pronunciar um discurso na Universidade de Roma La Sapienza após os protestos de professores e estudantes. "O Papa defende seu direito de falar em espaço laico e fala como representante de uma comunidade que conserva como tesouro o conhecimento e experiências éticas importantes para toda a Humanidade. Fala como representante de uma razão ética", explicou então o pontífice teólogo.

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