postado em 12/09/2008 10:44
CARACAS - O presidente venezuelano Hugo Chávez atacou o governo americano depois de denunciar a existência de um complô cívico-militar e expulsou o embaixador de Washington, prevendo "dias e semanas difíceis" para seu projeto revolucionário. O dia de alta tensão política começou na madrugada de quinta-feira, quando foi revelada em um programa da TV estatal a gravação de uma conversa entre militares da reserva planejando um golpe de Estado e o assassinato de Chávez.
A reação do governo foi imediata e gerou várias manifestações públicas do presidente em cadeia de rádio e televisão. O chefe de Estado acusou a "oposição política desesperada", a "oligarquia" e "o império norte-americano" de estarem por trás das manobras de desestabilização, não apenas na Venezuela como também "em países irmãos" como a Bolívia, onde seu amigo e aliado Evo Morales enfrenta forte oposição política.
Chávez denunciou que Washington tenta derrubar Morales, que expulsou o embaixador americano de La Paz. "Se derrubarem Evo, se o matarem, saibam os golpistas da Bolívia que estarão me dando sinal verde para apoiar qualquer movimento armado na Bolívia", alertou o presidente venezuelano.
Horas mais tarde, Chávez foi ainda mais longe em suas advertências ao governo do presidente George W. Bush e anunciou a expulsão do representante diplomático dos Estados Unidos na Venezuela, Patrick Duddy, a quem intimou a abandonar o país em 72 horas.
"A partir deste momento o embaixador ianque em Caracas tem 72 horas para sair da Venezuela, em solidariedade com a Bolívia", afirmou. "Vão para o caralho, ianques de merda", atacou Chávez em seu discurso. Além disso, ameaçou Washington com a suspensão do fornecimento de petróleo caso os Estados Unidos tentem "alguma agressão contra a Venezuela".
"Se houver alguma agressão contra a Venezuela, não haverá petróleo para o povo dos Estados Unidos", o principal comprador do combustível venezuelano. O ministro da Defesa venezuelano, general Gustavo Rangel, informou à imprensa que "a Promotoria militar já está investigando" os oficiais envolvidos no suposto complô contra o governo e disse que "em sua maioria são militares da reserva, mas há alguns em atividade".
O promotor militar Ernesto Cedeño afirmou que dois altos oficiais da reserva serão processados por "instigação à rebelião", enquanto indicou que outros quatro militares de alta patente e outros oito militares "serão levados" a interrogatório nas próximas horas.
Chávez terminou o dia no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, onde uma multidão se reuniu para expressar apoio e solidariedade ao presidente. O mandatário agradeceu a presença de seus seguidores e disse que seu governo já está atuando contra os envolvidos na tentativa de golpe de Estado. "Já há alguns detidos e outros estão fugindo como ratos, mas os ianques e 'pitianques' não poderão com a Venezuela ", ressaltou.
Chávez advertiu que "os próximos dias, as próximas semanas vão ser difíceis, mas resistiremos à agressão imperialista". A denúncia de complô e a expulsão do embaixador dos Estados Unidos ocorrem depois do anúncio da presença desde quarta-feira do país de dois bombardeiros estratégicos russos TU-160 com o objetivo de realizar "vôos de treinamento".
"É um aviso. A Rússia está conosco. Somos aliados estratégicos. É uma mensagem ao império. A Venezuela já não é aquela pobre e solitária", destacou Chávez na quinta-feira em um ato público. Venezuela e Rússia deverão efetuar pela primeira vez manobras navais conjuntas no Mar do Caribe em novembro.