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Bolívia: homens armados e prédios saqueados lembram campo de guerra

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postado em 13/09/2008 08:24
A praça de Cobija, onde fica a sede do governo do departamento (estado) de Pando, mais lembra um campo de guerra. Os opositores tomaram o prédio e permanecem de guarda. Do outro lado da rua, os sindicalistas e trabalhadores rurais esperam, prontos para a luta. Nas ruas, há várias lojas saqueadas e carros queimados. Muitos moradores carregam um pedaço de pau ou uma arma. No meio da briga entre opositores e aliados do presidente boliviano, Evo Morales, 14 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas ; três são brasileiras, inclusive uma criança. Na noite de ontem, Morales decretou estado de sítio no departamento. Nestor da Silva, Pitter Portillo Cofer e uma menina ainda não-identificada estão internados no hospital de Cobija. Os três passavam pela localidade de Porvenir, a poucos metros da capital. Eles estavam em um caminhão atacado por milícias quando retornavam de uma derrubada de árvores com outros agricultores. Na emboscada, nove pessoas morreram. Silva foi baleado no peito e seu estado de saúde é considerado estável. Cofer sofreu um disparo nas costas. A criança, que seria filha de um dos dois, teve ferimentos leves, segundo moradores de Cobija. A situação na cidade estava calma na manhã de ontem, mas na madrugada várias lojas foram saqueadas por pessoas supostamente contrárias ao presidente. O governador de Pando, Leopoldo Fernandez, chegou a sair às ruas para acalmar a população, sem êxito. Silva e Cofer fazem parte das oito mil famílias do Brasil que habitam a região desde a década de 1970. Pobres e sem alternativa de trabalho, além do extrativismo e da pequena agricultura, eles representam o perfil dos brasileiros que vivem em Pando e Beni. A região é praticamente isolada dos grandes centros e muitas vezes depende do Acre e de Rondônia, com quem faz divisa. ;Aqui as coisas não estão nada bem. Eles golpeiam qualquer pessoa que seja sindicalista ou a favor do presidente;, disse por telefone ao Correio Edgar Alvarado. O boliviano se esconde do conflito dentro de um escritório de uma ONG para a qual trabalha em Cobija. Ele conta que a cidade está fechada e que nas ruas permanecem apenas manifestantes pró e contra o governo. ;Temos um país dividido entre oriente e ocidente e esse é um problema muito difícil;, afirmou Edgar. Acusação Pando é o departamento onde os conflitos se tornaram mais violentos. A região fica na divisa com Rondônia e o movimento de brasileiros que deixam o país em direção à cidade de Guajará-Mirim é grande. O vice-ministro da Coordenação com Movimentos Sociais, Sacha Llorenti, disse que os choques de ontem deixaram ;aproximadamente 10 mortos;. Llorenti acusou brasileiros de participarem do conflito. ;Malfeitores brasileiros e peruanos contratados pelo governador de Pando continuam perseguindo camponeses(...), exigimos que parem com essa caçada;, disse. Hernán Cuéllar, senador do departamento de Pando, contou que na manhã de ontem foram encontrados seis corpos de trabalhadores rurais perto de um rio e que há um número indeterminado de pessoas desaparecidas. O estado de sítio visa a facilitar o envio de ajuda à região. Colaborou Edson Luiz

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