postado em 14/09/2008 08:30
O presidente da Bolívia, Evo Morales, se reúne hoje com governadores de departamentos de oposição e está disposto a fazer concessões para encerrar o conflito entre seus simpatizantes e adversários nas regiões leste e norte do país. Morales disse que pode rever a maneira como a futura Constituição tratará o tema das autonomias departamentais. Os governos departamentais opositores exigem que a Carta Magna dê mais poder às lideranças locais e não centralize decisões em La Paz. O presidente marcou para 7 de dezembro um referendo sobre o texto constitucional.;O diálogo com a oposição está sempre aberto;, afirmou Morales. O vice-presidente, Álvaro García Linera, confirmou que, além da nova Constituição, o repasse da receita obtida com o Imposto sobre Hidrocarbonetos (IDH) estará na pauta. Os governos de Santa Cruz, Tarija, Chuquisaca, Pando e Beni exigem que o presidente devolva aos departamentos 30% da arrecadação ; hoje utilizados para pagar uma pensão a maiores de 60 anos. No entanto, Leopoldo Fernández, governador de Pando, onde os conflitos são mais violentos, anunciou que não comparecerá ao encontro.
Morreram em Pando, durante os três dias de graves confrontos entre grupos pró e contra Morales, pelo menos 16 pessoas. Dezenas estão feridas, entre elas quatro brasileiros. O último deles foi levado ontem a um hospital de Brasiléia, no Acre. Morales disse que assassinos de aluguel brasileiros e peruanos começaram a confusão por ordem de Fernández. ;Essa gente foi massacrada, houve um massacre com metralhadoras. Participaram narcotraficantes e mercenários brasileiros e peruanos, a mando do governador do departamento;, afirmou. O presidente manteve o estado de sítio em Pando, mas anunciou que não estenderá a medida para outras regiões.
A Chancelaria do Peru pediu a La Paz informações sobre a participação de cidadãos peruanos no conflito. Até as 18h20 de ontem, o Itamaraty tampouco havia recebido detalhes da denúncia. Fernández negou participação na onda de violência. Veimar Becerra, um deputado constituinte do Movimento ao Socialismo, de Morales, disse à Educación Radiofónica de Bolívia ; uma das principais redes de rádio do país ; que Fernández e os supostos matadores de aluguel teriam fugido para território brasileiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai amanhã a Santiago, no Chile, para participar de uma reunião extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) com o objetivo de discutir a crise na Bolívia. O encontro foi convocado pela presidenta chilena, Michelle Bachelet. A princípio, Lula relutou em comparecer porque não sabia se o diálogo tinha o consentimento de Morales nem os pontos que seriam debatidos. ;Pedi ao Celso Amorim (chanceler brasileiro) para ligar para as pessoas e procurar saber o seguinte: vamos reunir o conjunto de presidentes para quê? Não podemos tomar a decisão pela Bolívia. É preciso que a Bolívia dê o parâmetro;, afirmou, em Petrópolis (RJ). Morales agradeceu o apoio internacional para que ele continue ;aprofundando e consolidando a democracia boliviana;.
Leia na edição impressa entrevista com José Luis Exeni, presidente da Corte Nacional Eleitoral (CNE) da Bolívia