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Igreja Católica decide não se desculpar com Darwin

Vaticano declara que evolucionismo não contraria dogmas sobre a criação do mundo. Ex-alunos do papa contradizem cientista britânico

postado em 17/09/2008 08:02
;A teoria evolucionária não é incompatível a priori com os ensinamentos da Igreja Católica, com a mensagem da Bíblia e a teologia, e de fato nunca foi condenada.; A declaração do monsenhor Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, soou como a releitura de uma conciliação da tese científica sobre a criação do mundo. No entanto, está longe de ser um pedido de desculpas póstumas ao cientista Charles Darwin, pai da teoria da evolução das espécies, criada 150 anos atrás. ;Talvez devêssemos abandonar a idéia de emitir pedidos de desculpas como se a história fosse um tribunal eternamente em sessão e nos concentrar em estabelecer um diálogo franco e eficiente entre dois pontos de vista que olham para a mesma realidade ; do homem e de seu mundo;, acrescentou Ravasi. Para o catolicismo, a gênese ocorreu, literalmente, por meio da palavra de Deus e durou seis dias. De acordo com o pensamento darwinista, todas as espécies surgiram a partir de ancestrais comuns, por meio da seleção natural. Em entrevista ao Correio, ex-alunos do papa Bento XVI admitem que o Vaticano está isento de se justificar perante a figura de Darwin. ;A Igreja não tem que pedir desculpas a Darwin;, afirma Vincent Twomey, professor de teologia moral do St. Patrick;s College, em Dublin (Irlanda). ;Ela freqüentemente se opôs ao darwinismo, uma filosofia baseada na teoria da evolução que tentou projetar o princípio da ;sobrevivência do mais saudável; à esfera política e acabou por justificar movimentos de eugenia e ideologias como o nazismo e o marxismo;, acrescenta. De acordo com ele, o próprio conceito criado por Darwin recebeu ajustes ao longo das últimas décadas e ajudou muitos cientistas a reconhecer a realidade como algo ;inteligível e divino;. Twomey considera o criacionismo não uma crença católica, mas produto de fundamentalistas protestantes americanos. ;Eles vêem a teoria da evolução como contraditória ao texto literal do livro de Gênesis, o que é especialmente absurdo, por ignorarem o seu gênero literário;, afirma. Na opinião do irlandês que concluiu seu doutorado sob a tutela de Joseph Ratzinger, entre 1971 e 1978, na Universidade de Regensburg (Alemanha), os defensores do criacionismo anseiam em ver sua interpretação ensinada nas aulas de religião e de ciência. ;Isso é um absurdo, confunde fé e razão;, critica Twomey. Limitações Em 1986, a Santa Sé já havia antecipado uma postura mais amena em relação ao evolucionismo. ;A teoria da evolução natural, compreendida de modo que não exclua a causalidade divina, não se opõe à verdade sobre a criação do mundo visível como apresentada no livro de Gênesis;, declarou o papa João Paulo II, naquela ocasião. Dez anos depois, o pontífice polonês enviou uma mensagem à Academia Pontifícia de Ciências na qual se referiu à evolução como ;mais do que uma hipótese;. O padre norte-americano Joseph Fessio, também ex-aluno de Ratzinger, admite que a ;catequese da criação; não aborda a evolução. Segundo ele, a ciência trata apenas do que é quantificável, empírico. ;Ela só pode investigar o processo dentro da natureza;, sugere. ;Qualquer questão sobre uma realidade para além do empírico pertence à filosofia.; Fessio lembra que, ao alegarem que mutações ou a seleção natural são suficientes para explicar a origem da vida, Darwin se opõe à Igreja e à filosofia. De acordo com ele, a fé precisa defender a razão e apontar suas limitações. ;Deus é extratemporal: Ele não criou o mundo para assisti-lo a se desenvolver;, explica Fessio. ;Seu ato de criação comporta todo o tempo. O mundo é uma dança cósmica.;

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