postado em 18/09/2008 12:56
GENEBRA - Os palestinos pagam o preço do sentimento de culpa dos ocidentais pelo Holocausto, que renunciam por isso a pressionar Israel para obter uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, afirmou nesta quinta-feira o Prêmio Nobel da Paz, Desmond Tutu, em Genebra.
"Acredito que o Ocidente, com toda razão, se sente culpado por sua horrível conivência com o Holocausto" cometido pelos nazistas, declarou à imprensa o arcebispo sul-africano depois de apresentar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU seu relatório sobre a investigação do bombardeio pelas forças israelenses da aldeia de Beit Hanun, na Faixa de Gaza.
"Agora, quando vocês se sentem culpados, estão dispostos a fazer penitência e querem ser castigados. O Ocidente faz penitência e os castigados são os palestinos", acrescentou. "Eu espero só que os cidadãos comuns se despertem no Ocidente e digam 'nós não queremos isso'", acrescentou Desmond Tutu.
O arcebispo anglicano sul-africano, que recebeu essa missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, concluiu que "o bombardeio de Beit Hanun, em novembro de 2006, que matou 19 civis, pode constituir um crime de guerra". "Diante da falta de explicações detalhadas do Exército israelense, a missão deve concluir que há uma possibilidade de o bombardeio de Beit Hanun constituir um crime de guerra", afirmou seu relatório.
"O mais grave é o silêncio da comunidade internacional diante do que acontece. Este silêncio gera cumplicidade", declarou Tutu nesta quinta-feira no Conselho de Direitos Humanos. Embora Israel tenha lhe negado acesso à Faixa de Gaza, o Prêmio Nobel da Paz conseguiu entrar em maio de 2008 passando pelo Egito.
Depois de uma investigação interna, as autoridades israelenses chegaram à conclusão de que o bombardeio de alvos civis se deveu ao "grave erro técnico do sistema de radar da artilharia". Em fevereiro, Israel decidiu não lançar ações judiciais contra as unidades militares envolvidas.
Segundo o documento de Desmond Tutu, que pede a Israel que indenize as vítimas, a alegação das autoridades israelenses é "absolutamente inaceitável" tanto do ponto de vista legal como moral.