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Peru propõe acordo comercial ao Brasil

Em reunião com Lula e durante encontro com empresários, em São Paulo, presidente Alan García defende tratados bilaterais como via para integrar o continente e remédio contra a instabilidade dos mercados

postado em 19/09/2008 07:53
São Paulo ; O presidente do Peru, Alan García, defendeu ontem um acordo bilateral de livre comércio com o Brasil, para incentivar investimentos, aumentar a presença de empresas brasileiras em seu país e favorecer o setor de serviços e a área financeira. García aponta os impasses no Mercosul e na Comunidade Andina como maior justificativa para rever os acordos comerciais existentes na América do Sul.

Durante a visita a São Paulo, o chefe de Estado teve um encontro reservado com o colega Luiz Inácio Lula da Silva e se reuniu com o presidente da Federação das Indústrias (Fiesp), Paulo Skaf. Entre as idéias que apresentou está um acordo com a Petrobras e a colombiana Ecopetrol, que já colaboram na extração de petróleo em solo peruano, para facilitar o escoamento da produção. A obra, orçada em US$ 870 milhões, possibilitará ainda a extração de 100 mil barris de petróleo e estará concluída em 2013.
Para García, com a crise econômica mundial, os países da América do Sul deveriam unir forças para não mergulhar na recessão coletiva. Ele aponta o fracasso das negociações da Rodada de Doha como principal motivo para a assinatura de um tratado comercial com o Peru, que já tem acordos em vigor com o Canadá e os Estados Unidos. ;Estamos em negociação com a China e a Coréia do Sul;, acrescentou o presidente peruano. ;O mundo hoje estremece com as crises financeiras que ameaçam o crescimento. A melhor maneira de resistir à crise nos Estados Unidos e na Europa é investirmos na integração sul-americana;, defendeu, perante uma platéia de empresários brasileiros.

Divisor de águas
Paulo Skaf classificou o encontro como ;um divisor de águas; no relacionamento entre brasileiros e o país vizinho. ;Daqui para a frente, tenho total confiança de que aquilo que foi pregado pelo presidente Alan García, no sentido de avolumar os investimentos brasileiros no Peru, aumentar o fluxo de comércio e de ficarmos mais integrados e próximos, virá numa realidade breve;, disse Skaf.

O visitante ressaltou ainda a necessidade de ;reconstruir os instrumentos da integração continental;. A reforma, segundo García, é importante para compreender o que ele chamou de ;economia do século 21;. ;A capacidade de movimentação das economias exige uma análise desses instrumentos. Não devemos sacrificar a integração do continente em respeito às instituições do passado;, disse.

O presidente destacou ainda a importância de Brasil e Peru destravarem as ferramentas de troca comercial para ampliar a pauta de importações e exportações. O volume negociado ainda é muito baixo. Em 2007, o comércio bilateral movimentou cerca de US$ 2,6 bilhões. O Brasil foi destino de apenas 1,03% das vendas externas do Peru. Já os investimentos brasileiros movimentaram US$ 235 milhões no país vizinho, em 2006.

García disse aos empresários brasileiros que seu país está disposto a se transformar num corredor de exportação para os produtos brasileiros. ;Estamos aqui para oferecer o Peru como plataforma para esse imenso país. Nossa localização geográfica é conveniente para o Brasil. Para que contornar o continente, se podemos seguir em frente?;, questionou, referindo-se à construção do corredor interoceânico. A rodovia, de 5.900km, interligará a Amazônia brasileira ao porto de San Juan, às margens do Pacífico, classificado por García como ;maior fonte de riqueza de comércio;.
Nossa localização geográfica é conveniente para o Brasil. Para que contornar o continente, se podemos seguir em frente?

Político reinventado

Maior liderança do tradicional partido social-democrata Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), Alan García chegou ao poder pela segunda vez há dois anos. Já havia governado o Peru entre 1985 e 1990, num mandato considerado desastroso pela maioria da população. Mesmo assim, os eleitores decidiram dar a ele outra chance.

Durante a campanha, tentou apagar da memória dos eleitores o estatista radical dos anos 1980. Prometeu manter a estabilidade econômica peruana ; a inflação ao consumidor foi de apenas 1,6% no ano passado ; e priorizar o desenvolvimento da agricultura para combater a pobreza. Quando tomou posse pela primeira vez como presidente, García tinha apenas 36 anos. Na época, enfrentou o fortalecimento do grupo armado Sendero Luminoso e um momento crítico da guerra interna, que só seria controlada no governo posterior, de Alberto Fujimori. A tentativa de nacionalizar os bancos, em 1987, também fez sua popularidade despencar.

Uma das ações mais questionadas de seu primeiro mandato foi o massacre de mais de 250 presos emtrês prisões de Lima, em 1986, como resposta a uma rebelião. Em 1990, a inflação acumulada passava de 7.000%.

Alan García é formado em Direito pela Universidade de San Marcos, de Lima, e doutor pela Universidade Complutense de Madri. Em meio a acusações de enriquecimento ilícito, que posteriormente foram declaradas prescritas pela Justiça peruana, ele deixou o Peru em 1992 rumo à Colômbia, sob o risco de ser preso durante o governo Fujimori. Voltou para ressuscitar a carreira política.

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