postado em 19/09/2008 11:14
COCHABAMBA - O presidente Evo Morales e quatro governadores da oposição caminhavam com lentidão, e mesmo desconfiança, em direção a um acordo para aliviar a crise política no país, com a formação de três comissões para discutir as questões que atualmente dividem a Bolívia, após três semanas de violentos distúrbios, que deixaram 19 mortos.
O chefe de Estado, pressionado por duros protestos da oposição em cinco departamentos, discutiu durante 15 horas com seus rivais políticos maneiras de pacificar o país em Conchabamba. Os debates entre Morales e os governadores Rubén Costas (Santa Cruz), Mario Cossío (Tarija), Savina Cuéllar (Chuquisaca) e Ernesto Suárez (Beni) começaram na quinta-feira e prosseguirão nesta sexta-feira. "Estamos buscando um acordo, não é fácil, leva tempo, há posições muito difíceis de resolver", afirmou Cossío.
As negociações acontecem a portas fechadas em um complexo turístico a cerca de três quilômetros da cidade. Além dos líderes políticos, estão presentes representantes da Igreja católica e delegados e diplomatas da Unasul, OEA, ONU e União Européia, que se limitam a observar a reunião.
"As negociações foram duras, houve intervenções fortes", disse uma fonte que participava da reunião, marcada pela desconfiança dos dois lados da mesa, que desde janeiro tentam iniciar um diálogo, sem sucesso. Cossío, no entanto, explicou que desta vez foram formadas três comissões técnicas sem uma agenda de trabalho, apenas com a missão de discutir como redigir um acordo para ser levado ao presidente Morales e às autoridades regionais para aprovação.
O vice-ministro da Descentralização, Fabián Yaksic, confirmou que "há três comissões começando os trabalhos nesta sexta-feira: uma sobre as reformas constitucionais e as autonomias regionais e as outras sobre os recursos do IDH".
O diálogo sofreu sobressaltos com as notícias que chegavam de La Paz, onde o governador oposicionista de Pando, Leopoldo Fernández, teve o pedido de habeas corpus negado e foi enviado para uma penitenciária pública, acusado de envolvimento no caso da morte de 16 camponeses durante a onda de violência na semana passada.
Fechados durante horas na tensa reunião, os líderes políticos tomaram conhecimento também do grande interesse do exterior pelo desenrolar da crise boliviana, e das expectativas em torno do trabalho dos observadores internacionais, cuja missão é evitar que governo e oposição se entrincheirem de vez em suas posições.
O presidente de Peru, Alan García, disse em visita ao Brasil que seu país apoiava a democracia boliviana e a unidade territorial, enquanto o porta-voz do governo, Iván Canelas, confirmou a chegada à Bolívia do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.
As negociações aparecem como a luz no fim do túnel da crise boliviana, que se arrasta desde a rejeição dos cinco departamentos rebeldes à nova Constituição aprovada por Morales.