Mundo

Governo e oposição criam grupos de trabalho na Bolívia

Equipes vão examinar as questões centrais do processo de diálogo iniciado em Cochabamba. Governadores autonomistas repudiam pressão de manifestantes pró-Evo Morales

postado em 20/09/2008 09:37
O presidente Evo Morales fez uma rápida pausa no segundo dia de negociações com a oposição para viajar ao Panamá. Foi recebido pelo presidente Martín Torrijos para uma conversa privada, visitou as eclusas do canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico e, no fim do dia, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade do Panamá por sua luta em favor dos indígenas. Morales deveria seguir para o Canadá, mas cancelou a viagem para retomar o diálogo com os governadores opositores ; ainda ontem. Na madrugada anterior, em Cochabamba, o governo central e oito governadores tinham decidido criar três comissões de trabalho para viabilizar um acordo que se resume a dois pactos: fiscal e institucional. As três comissões cuidarão da restituição do Imposto Direto sobre os Hidrocarbonetos (IDH), o processo de autonomia, o novo texto constitucional e o consenso para designar as autoridades do Poder Judiciário e da Corte Nacional Eleitoral. Estiveram presentes representantes da Argentina, do Brasil e da Colômbia, que formam o Grupo de Amigos da Bolívia. Morales disse ontem que aceitaria instaurar um regime de autonomias regionais se os governadores concordassem com a realização de um referendo para ratificar seu projeto de Constituição. ;A proposta está sobre a mesa;, disse o vice-ministro de Descentralização, Fabián Yaksic. Os governadores fizeram uma contraproposta: pediram a revisão do todo o novo texto constitucional para incluir a discussão sobre a capital (a governadora de Chuquisaca quer que o governo se transfira de La Paz para Sucre, a sede constitucional) e a questão da autonomia regional. Enquanto isso, centenas de mineiros chegavam à rodoviária de Cochabamba. Eles organizaram um congresso nacional para avaliar as 30 mortes no departamento de Pando, em choques entre governistas e oposicionistas. ;Se o diálogo se paralisa ou se rompe, agiremos contra os que estão tomando de assalto o país;, ameaçou o presidente da Federação Nacional de Cooperativas de Mineiros (Fedncomin), Andrés Vilcadasa. Nesse caso, ele considera a possibilidade de marchar até Santa Cruz para ;reforçar o cerco; mantido pelos camponeses pró-Morales e até ;fazer um bloqueio nacional paralisando todo o país;. O governador de Tarija, Mario Cossío, reclamou que o diálogo ;está frágil;. ;Peço ao governo que não mobilize gente, que nos deixe dialogar, porque se vão trazer ônibus e ônibus de gente que solta morteiros enquanto estamos dialogando, isso pode prejudicar o diálogo.; Normalização O clima de distensão nos últimos dias ao menos já permitiu normalizar a exportação de gás natural para a Argentina, parada desde que um grupo de manifestantes da oposição fechou as válvulas da estação de Yacuiba (Tarija). De acordo com Rodrigo Carrasco, gerente de Comercialização da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), o fornecimento diário voltou aos 1,8 milhões de m³. Na próxima semana, Morales prometeu se apresentar perante a 63ª Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York, ;para denunciar como o império entra na Bolívia para conspirar contra o governo;, em referência à suposta contribuição do embaixador americano Philip Goldberg aos grupos que se opõem ao governo central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará o discurso abertura da Assembléia Geral.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação