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Portugal investiga clone do PCC

Jornal de Lisboa denuncia o Primeiro Comando de Portugal, suposto grupo criminoso formado por brasileiros, e embaixador consulta autoridades. Ao Correio, fundador de facção rebate acusações

postado em 20/09/2008 09:39
;Vim da favela de GV (Governador Valadares), city de Minas, pode crer. Mas estou aqui em Pt (Portugal), é em Setúbal que vim viver. Não rola guerra é só lazer, meus trutas sei escolher (%u2026) Eu já vi sangue, eu já vi dor, eu fui o ódio, eu fui o amor (%u2026) Se liga, a vida é curta. Estou sempre na luta e não abaixo pra nenhum fdp.; Os versos de um suposto rap estão no site de relacionamento de McDidado, um membro do Primeiro Comando de Portugal (PCP). Desde ontem, a divulgação da existência do grupo causou alvoroço na mídia lusitana e levou o Itamaraty a realizar uma série de gestões com as autoridades portuguesas. Em reportagem publicada ontem, o jornal Correio da Manhã, de Lisboa, sustenta que o PCP é uma organização criminosa, ;composta por jovens provenientes das favelas brasileiras, para os quais a violência é um modo de vida;. Além de considerar o PCP um clone do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção responsável por assaltos e assassinatos em São Paulo, o diário português revela que os integrantes do grupo ;têm hino no YouTube, agregam-se na internet e são suspeitos de vários atos de violência;. Escute a entrevista com Celso Marcos Vieira de Souza, embaixador do Brasil em Portugal
Foi também por meio da internet que o Correio Braziliense localizou McDidado, um dos fundadores do PCP, em 2005. Casado e pai de uma menina de 3 meses, o servente de pedreiro disse que o PCP surgiu como uma congregação de solteiros, que se reuniam nas baladas. ;Começamos a fazer hip-hop em Portugal, sobre a realidade das favelas;, lembra. Ele contou ainda que o grupo conta com 15 mineiros de 15 a 22 anos de idade, cinco deles imigrantes ilegais e todos moradores de Setúbal, cidade situada a 45 minutos ao sul de Lisboa. O Correio da Manhã divulgou que o crime mais recente do bando foi praticado por Edivaldo, de 20 anos, dois meses atrás: o ourives José Correa foi morto com dois tiros na cabeça após reagir a um assalto. Apesar de admitir à reportagem que conhecia o assassino, McDidado considerou que as acusações do jornal português são ;idéias erradas para se ganhar ibope;. ;A gente não sabia nada do passado dele (Edivaldo), nós o conhecemos há seis meses, e o nosso grupo já tem três anos. Era só zueira (sic) de solteiro;, defendeu-se. O rapaz também refuta qualquer comparação com o PCC. ;Pegaram um vídeo no YouTube que tinha a gente brincando e colocaram de uma forma provocativa, dizendo que éramos um xerox do PCC;, explicou. McDidado acredita que Edivaldo enveredou-se pelo crime porque não conseguia emprego. ;Eles (portugueses) não legalizam o pessoal aqui e só trabalha quem está legal;, afirmou. ;Estão querendo nos colocar como responsáveis pelo aumento da criminalidade em Portugal.; Em quatro páginas, a reportagem publicada ontem em Lisboa sob o título ;Crime da favela mora em Setúbal; explica que o núcleo central ; ou diretoria ; do PCP é formado por 13 pessoas, todas admiradoras do rap e orgulhosas por terem nascido na favela. Também morador de Setúbal, o professor português Fernando Pinho, de 53 anos, desconfia da notícia. ;A pressão aqui sobre o governo é grande. Os assaltos violentos têm aumentado muito no último semestre e, como a capacidade de resposta é limitada, eles arranjam bodes expiatórios.; Contatos Por telefone, Celso Marcos Vieira de Souza, embaixador do Brasil em Portugal, admitiu que manteve contatos durante todo o dia de ontem com autoridades portuguesas para tratar do assunto. ;Eles me asseguraram que 40% do que foi publicado é fantasia;, disse. As autoridades portuguesas confirmaram ao diplomata que houve um acréscimo da criminalidade no país. ;Resta saber se o aumento da criminalidade de brasileiros é maior ou menor que o da criminalidade em geral. Não souberam me responder;, comentou. ;Na próxima semana, terei uma reunião com a polícia para tratar dessa reportagem.; O tema ;imigração; virou destaque na imprensa portuguesa desde 7 de agosto passado, quando dois brasileiros assaltaram uma agência do Banco Espírito Santo (BES) e fizeram dois reféns por mais de oito horas. ;Os imigrantes são uma comunidade muito exposta. Então, a culpa é do boliviano, do ucraniano do Leste Europeu, do brasileiro, sobretudo isso ocorre em países da Europa;, disse Souza. O embaixador questionou a linha sensacionalista do Correio da Manhã. ;É um jornal parecido com o Luta Democrática e O Dia, por estampar em suas primeiras páginas assuntos policiais;, afirmou. Ele também frisou que é preciso alertar os brasileiros a não irem para Portugal em situação ilegal, sob pena de serem explorados por máfias.

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