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Governo era o alvo de ataque a hotel no Paquistão

Presidente, premiê e membros do gabinete jantariam no hotel Marriott, na noite do ataque, mas autoridades mudaram o local do encontro. Grupo desconhecido assume autoria do atentado suicida

postado em 23/09/2008 08:00
O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, era o alvo do pior atentado da história do país. De acordo com o ministro do Interior, Rehman Malik, o viúvo da ex-premiê Benazir Bhutto, o primeiro-ministro Youssef Raza Gilani e outros membros do gabinete do governo tinham um jantar marcado no luxuoso hotel Marriott, em Islamabad, na noite do atentado que deixou pelo menos 57 mortos e 266 feridos. O local do encontro foi mudado de última hora, e as autoridades ; entre elas o chefe do Exército do Paquistão, Ashfaq Kiyani ; se reuniram na casa de Gilani. A informação reforça a tese de envolvimento do Serviço Secreto Paquistanês (ISI, pela sigla em inglês), suspeito de manter ligações com grupos islâmicos do país, inclusive a rede Al-Qaeda. O jantar seria oferecido pela presidenta do Parlamento, Fahmida Mirza, para comemorar o primeiro discurso de Zardari como presidente, realizado horas antes do atentado. Malik disse à imprensa que a equipe do governo resolveu alterar o local do evento por ;questões de segurança;, já que muitas autoridades haviam sido convidadas. ;Talvez os terroristas soubessem que o Marriott era o local do jantar que reuniria o presidente e o premiê. (;) Na última hora, eles decidiram transferir o evento para a casa do primeiro-ministro. Isso salvou toda a liderança;, afirmou o ministro do Interior. Um porta-voz do hotel, no entanto, garantiu que não havia ;nenhuma reserva para um jantar com essas autoridades;. Apesar de os serviços de inteligência paquistaneses e norte-americanos culparem a rede terrorista Al-Qaeda pelo ataque do último sábado, um outro grupo, até então desconhecido, assumiu ontem a autoria do atentado. De acordo com a rede TV Al Arabiya ; sediada em Dubai ;, a facção Fedayeen Islam (Partidários do Islã) enviou uma mensagem de celular ao correspondente da emissora em Islamabad com um número telefônico, no qual podia se escutar uma gravação. O autor da mensagem, que falava em inglês com sotaque do Sudeste Asiático, disse que seu grupo organizou o ato terrorista. O suposto extremista fez uma série de exigências ao governo paquistanês, entre elas, que o país pare de colaborar com os Estados Unidos no combate ao terrorismo. O porta-voz dos Fedayeen Islam exigiu a retirada das bases americanas e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na região, além do fim dos ataques dos Estados Unidos a áreas tribais na fronteira com o Afeganistão. Outra reivindicação foi a libertação de militantes que estariam sendo mantidos em ;prisões secretas dos EUA; ; entre eles um dos principais idealizadores do 11 de Setembro, Sheikh Mohammed. ;Se essas demandas não forem atendidas, estamos prontos para morrer;, dizia a gravação. O grupo ameaçou realizar novos ataques e pediu aos muçulmanos para se manterem afastados de lugares freqüentados por ocidentais. A Al-Arabiya divulgou que a autenticidade da gravação não pôde ser verificada. Ontem, equipes de resgate realizaram uma nova operação nos escombros do Marriott, mas não encontraram mais corpos. Condolências Por meio de um comunicado , o Conselho de Segurança da ONU condenou fortemente o ataque terrorista. No texto, lido pelo embaixador de Burkina Faso, Michel Kafando, o Conselho expressou ;profunda solidariedade e condolência; pelas vítimas do ato ;hediondo;. Os países ressaltaram a necessidade de julgamento dos responsáveis e se ofereceram para cooperar com as autoridades paquistanesas. ;Qualquer ato de terrorismo é criminoso e injustificável, independentemente de sua motivação;, afirma o comunicado. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro manifestou solidariedade ;ao governo e ao povo paquistaneses; pelo ;inaceitável ato terrorista;. ;O governo reitera sua veemente condenação a todas as formas de terrorismo e faz votos de que o Paquistão possa trilhar o caminho da paz e da estabilidade;, afirma o texto do Itamaraty. Hoje, Zardari participará da Assembléia-Geral da ONU, em Nova York, onde deve se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tropas atiram em helicópteros dos EUA Dois dias depois do atentado contra o hotel Marriott, na capital paquistanesa, tropas do país voltaram a disparar contra helicópteros norte-americanos que teriam invadido seu espaço aéreo. As duas aeronaves sobrevoavam a região tribal do Waziristão do Norte, próximo à fronteira com o Afeganistão, onde os Estados Unidos acreditam haver bases talibãs. O governo paquistanês, no entanto, não permite a entrada de tropas norte-americanas para combater a rede terrorista Al-Qaeda no país. Os incidentes envolvendo os dois países aumentaram desde que o presidente George W. Bush autorizou suas forças a atacarem o lado paquistanês da fronteira sem a necessidade de comunicar Islamabad. Segundo uma autoridade local, os helicópteros foram obrigados a recuar para o Afeganistão. Entretanto, não houve confirmação oficial. ;Não temos qualquer informação sobre uma violação da fronteira por helicópteros norte-americanos;, disse o major Murad Khan, porta-voz militar. As relações entre os Estados Unidos e o Paquistão estão estremecidas desde um bombardeio que matou 20 pessoas, inclusive mulheres e crianças, no início do mês, na província do Waziristão do Sul, onde Osama bin Laden estaria refugiado. No último sábado, horas antes do ataque terrorista, o presidente Asif Ali Zardari declarou em seu primeiro discurso no Parlamento que manterá a decisão de não permitir a entrada de estrangeiros no país para ;caçar; os insurgentes. ;Nós não vamos tolerar a violação de nossa soberania e da integridade territorial por nenhum poder em nome do combate ao terrorismo;, disse. Somente neste mês, forças americanas promoveram seis ataques com mísseis e um assalto a partir de um helicóptero contra o território paquistanês. Hoje, Zardari deve se reunir com Bush, durante a Assembléia-Geral da ONU, em Nova York. Seqüestro O cônsul-geral afegão no Paquistão, Abdul Khaliq Farahi, foi seqüestrado ontem na cidade de Peshawar. De acordo com Noor Mohammad, segundo-secretário do consulado do Afeganistão, Farahi foi recentemente designado para ser o próximo embaixador do país no Paquistão. Ele revelou que o cônsul viajava quando homens ;armados e mascarados; interceptaram seu veículo e o levaram. O motorista da comitiva morreu na hora. O Ministério das Relações Exteriores do Paquistão condenou o ato e informou que todas as medidas têm sido tomadas para garantir a libertação do diplomata. Farahi já tinha sofrido uma tentativa de seqüestro em agosto, mas escapou ileso.

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