postado em 26/09/2008 09:19
PEQUIM - A primeira saída ao espaço de um astronauta chinês está prevista para este sábado, anunciou o porta-voz do da missão Shenzhou VII ('nave divina'), durante coletiva de imprensa em Pequim. Os três astronautas desse terceiro vôo habitado chinês passaram seu primeiro dia em órbita dedicados a preparar, montar e testar o traje de 120 kg que será utilizado na caminhada que Zhai Zhigang, um coronel da força aérea, fará no espaço, segundo a agência Nova China.
Se tudo transcorrer como previsto, a saída aos espaço acontecerá às 16h30 (5h30 de Brasília), informou o porta-voz do programa, Wang Zhaoyao. No total, a operação durará de 30 a 40 minutos, incluindo a abertura e o fechamento da cápsula. Segundo Zhang Jianqi, um dos chefes do programa espacial, esta missão é um grande teste, uma vez que os astronautas podem sofrer desmaios, vômitos e náuseas nessas saídas.
"Pode ser até mortal", explicou Li Yongzhi, diretor do departamento médico do Centro de Treinamento e Pesquisa dos Astronautas, citado pelo jornal China Daily. O foguete Longa Marcha, com a cápsula Shenzhou VII, decolou na véspera do noroeste da China.
A experiência de Zhai no deslocamento e manejo de ferramentas no espaço será fundamental para o avanço rumo aos objetivos. "Temos confiança, determinação e contamos com a capacidade necessária para executar a primeira caminhada espacial de um chinês", declarou o astronauta.
A missão Shenzhou VII, de 68 horas de duração, visa a aproximar o programa espacial chinês da meta de construir um pequeno laboratório orbital e posteriormente uma estação. Com uma ambição posterior: levar um chinês à Lua.
Este será o terceiro vôo tripulado chinês. A China se converteu em 2003, com a missão Shenzhou V, no primeiro país a ter colocado em órbita vôos tripulados depois da União Soviética e Estados Unidos.
A Shenzhou VI, realizada dois anos depois, levou dois astronautas ao espaço. "Apesar de não sermos os melhores, temos um grande orgulho de isso tudo ser obra nossa, 100% chinesa", afirmou à revista Notícias da China o pai do programa Shenzhou, Qi Faren, engenheiro aposentado, mas que continua atuante como assessor.
"O programa chinês pode ser definido como ambicioso, mas é progressivo e prudente", avalia Joan Johnson-Freese, especialista americano em programa espacial chinês. "O aumento paulatino de tripulantes corresponde a esse enfoque e segue o modelo usado pelos soviéticos e americanos", acrescenta.
"Mas com astronautas que saem ao espaço com um cordão umbilical, os chineses estão mais próximo das realizações dos anos 60 do que do scooter espacial ou do braço teledirigido dos ônibus espaciais americanos", destacou Isabelle Sourbes-Verger, especialista francesa.
Para Johnson-Freese, a Shenzhou VII deve permitir que a China avance para a construção de um pequeno laboratório espacial. A próxima missão Shenzhou deve ser realizada em 2010. Haverá três viagens sucessivas, as duas primeiras sem tripulação, para colocar em órbita dois módulos que servirão de base para o futuro laboratório.
A terceira, Shenzhou X, tripulada, se acoplará aos módulos e realizará experimentos científicos, explicou Qi, que prevê a construção de uma estação espacial chinesa em 2020.
O lançamento desta quinta - uma semana antes da festa nacional de 1o. de outubro e poucas semanas depois dos Jogos Olímpicos - permitirá ao governo comunista chinês passar a imagem de um país triunfante, tentando relegar para segundo plano o escândalo do leite contaminado que provocou a morte de quatro crianças e doenças em dezenas de milhares.