postado em 26/09/2008 22:25
O candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, criticou diretamente o rival republicano, John McCain, comparando suas propostas às políticas "falidas" do impopular presidente George W. Bush no primeiro de três debates presidenciais antes das eleições de 4 de novembro.
"Foram oito anos de políticas falidas de Bush, políticas apoiadas por McCain que dizem que podemos dar mais e mais aos ricos. Eu digo que os fundamentos da economia têm que ser medidos pela classe média, como forma de garantir que eles recebam o que é justo", disse Obama, em resposta à primeira pergunta da noite sobre sua postura em relação ao plano de resgate financeiro de Bush.
Apesar do tema ser política externa e segurança nacional, temas no qual o senador, republicano tem clara vantagem, o moderador Jim Lehrer, jornalista veterano da PBS, preferiu começar o debate com o tema que dominou a campanha nas últimas semanas: a grave crise financeira dos EUA.
"Não consigo pensar em um momento mais apropriado para falarmos no futuro do país.Vivemos na pior crise do país desde a Grande Depressão. Acredito que para o pacote ser aprovado é necessário uma série de propostas que garantimos a proteção dos contribuintes", disse Obama.
Lehrer escolheu as perguntas que serão respondidas pelos senadores --que têm dois minutos para responder as questões em ordem definida por moeda.
Na sua vez, McCain citou o senador democrata Edward Kennedy, que foi "[hospitalizado]": nesta quinta-feira. "Nossos pensamentos e orações estão com você", disse.
De volta à pergunta, o senador por Arizona reiterou a importância da união de democratas e republicanos para resolver a situação. "Hoje eu me sinto melhor. Estamos vendo pela primeira vez os republicanos e democratas sentados juntos, trabalhando para solucionar esta crise", disse.
"O pacote tem que ter transparência, responsabilidade, tem que oferecer opções para os proprietários de casas em dificuldades", disse McCain, listando suas ressalvas em relação ao plano.
"Quero enfatizar um ponto para todos os americanos. Esse não é o começo do fim, mas o fim do começo se criarmos um pacote que salve as finanças do país. Nós temos que trabalhar em uma economia que acabe com nossa dependência de petróleo estrangeiro", disse.
Suspense
Do lado de fora da sala onde acontece o debate, na Universidade do Mississippi, alunos e moradores dizem estar empolgados com o evento e aliviados de que está efetivamente acontecendo. Há menos de 12 horas, o debate ainda era incerto já que McCain não deixava claro se participaria do confronto.
O senador por Arizona anunciou nesta quarta-feira (24) que suspenderia sua campanha para ir a Washington ajudar na resolução sobre o plano de resgate financeiro proposto pelo governo do também republicano George W. Bush para dissipar a grave crise financeira do país.
A equipe de McCain disse que o senador voltará para Washington assim que o debate acabar. Já a campanha de Obama divulgou comunicado dizendo apenas que planeja retornar à cidade para as negociações sobre o plano que prevê injetar US$ 700 bilhões para a compra de títulos "podres" (sem liquidez) dos bancos pelo Estado.
No anúncio de quarta, McCain pediu também para que o debate fosse adiado. "Os americanos ao longo de nosso país lamentam o fato de que divisões partidárias em Washington evitaram que nós lidássemos com nossos desafios nacionais. Agora é a nossa chance de nos unirmos e provar que Washington é novamente capaz de liderar este país", disse.
O movimento foi avaliado pelos analistas como uma estratégia da campanha de McCain para reverter as pesquisas de intenção de voto que o colocam atrás do senador Obama, visto pelos eleitores como o mais apto para resolver a grave crise em Wall Street.
Obama concordou em unir esforços para conter a crise e propôs uma comissão bipartidária para discutir o plano de Bush no Congresso, mas não abriu mão do primeiro debate com McCain, na Universidade do Mississippi.
Sem avanços
Na tarde de quinta-feira (25), enquanto McCain e Obama ainda chegavam a Washington, líderes de ambos os partidos anunciavam terem concordado a respeito das bases do plano.
Horas mais tarde, Bush, os presidenciáveis e os líderes partidários participaram de novo encontro, desta vez na Casa Branca. Os ânimos, então, mudaram, e o discurso otimista foi substituído por ressalvas a respeito dos pontos que ainda careciam de negociação.
Os democratas acusam McCain de ser, ao menos em parte, responsável pela mudança. Na saída da reunião, McCain fincou o pé na posição que havia estabelecido no dia anterior - só sairia de Washington com o acordo. No final, cedeu. Pouco antes de o rival embarcar com destino a Mississippi, também decidiu ir. "Ele está otimistas com o importante progresso que houve para um acordo bipartidário agora que há a inclusão de representantes de todas as partes nas negociações", afirmou a campanha republicana, em comunicado.
Não foi surpresa para a campanha democrata. Ontem à noite, Obama riu ao ser questionado por um jornalista da CNN sobre a possibilidade de McCain faltar. "Não vou especular agora."
Expectativas
Apesar do tema da noite ser política externa e segurança nacional, há grandes chances de que a grave crise financeira vivida pelos EUA - tema que dominou a campanha presidencial nas últimas semanas - venha à tona. O moderador da noite, o jornalista Jim Lehrer, da PBS, afirmou que também questionará os presidenciáveis sobre a atual crise.
Para os dois presidenciáveis, o debate coloca muito em jogo. As pesquisas mais recentes indicam uma pequena vantagem de Obama, de apenas quatro pontos percentuais - resultado que pode ser facilmente revertido com o bom desempenho de McCain ou uma gafe do democrata.
Ambas as campanhas tentaram diminuir as expectativas sobre o desempenho de seus candidatos ao mesmo tempo em que aumentavam as expectativas para o rival.
O conselheiro de McCain, Mike Salter, citado pela CNN, afirmou que o senador quer "apenas ir bem contra o cara que é um ótimo debatedor, mostrou liderança presidencial e é capaz de falar diretamente com o povo americano sobre o que ele acredita".
A campanha de Obama, do outro lado, tentou desenhar este primeiro debate como uma vitória certa de McCain, argumentando que o tema do debate é um dos pontos fortes do rival republicano.
"Se ele errar, cometer uma gafe ou não conseguir uma performance de mudar o jogo, será uma grande derrota para sua campanha. Considerando sua performance instável nesta semana, ele precisa ganhar este debate desesperadamente como forma de mudar o tópico e voltar a um tema que lhe é vantajoso", disse Bill Burton, porta-voz de Obama, em comunicado.
Vices
Os companheiros de chapa de Obama e McCain não estarão em Mississippi no primeiro encontro entre os dois presidenciáveis.
O democrata Joe Biden deve assistir o debate do seu quarto de hotel em Milwaukee, Wisconsin.
Biden falou em evento de campanha, em Cudahy, Wisconsin, que o debate "é um evento importante" porque ilustra uma diferença fundamental em segurança nacional entre os candidatos.
"A diferença fundamental entre John e Barack e eu e John é essa: Se você está falando de segurança, tudo começa em casa em adição a proteger nossas tropas no exterior e dar a elas tudo que precisamos", disse.
Já a candidata a vice republicana, governadora do Alasca Sarah Palin, assistirá o debate da Philadelphia, Pensilvânia, onde se prepara para o debate de candidatos a vice, no dia 2 de outubro, no qual falará sobre política externa e interna.