postado em 29/09/2008 09:26
O Exército dos Estados Unidos começará a ceder na quarta-feira (01/10) ao governo do Iraque o comando dos 100.000 milicianos anti-Al-Qaeda que ajudaram os militares americanos a melhorar a segurança no país, em uma ação que gera inquietação.
O processo começará com a transferência dos 54.000 combatentes das brigadas Sahwa ("despertar" em árabe) da província de Bagdá. O governo iraquiano, dominado pelos xiitas, assumirá a partir de 10 de novembro o pagamento dos salários dos combatentes, saídos em sua maioria das fileiras dos insurgentes sunitas.
A cessão das Sahwas das outras regiões sunitas acontecerá progressivamente. Estas brigadas, que foram criadas em setembro de 2006 pelos líderes das tribos sunitas da província ocidental de Al-Anbar antes de se espalharem para outras regiões, infligiram muitas derrotas à Al-Qaeda, contribuindo para a perda de influência do grupo terrorista.
Dos 100.000 membros registrados das Sahwas, 54.OOO estão em Bagdá e 29.000 nas províncias do norte de Salahedin, Diyala, Kirkuk e Nínive. O governo iraquiano se comprometeu a alistar 20% dos Sahwas em suas forças de segurança e a obteempregos para os demais, tanto no setor público como no privado.
O destino destes últimos é o que provoca inquietação. "O que acontecerá com os 80% restantes?", questiona Abu Safan, líder Sahwa de Adhamiya, um bairro sunita da zona norte da capital que no passado foi um reduto da insurgência.
"Devem ser protegidos, porque são alvos da Al-Qaeda. Estamos satisfeitos de nos alinharmos com o governo, mas a incerteza persiste", explicou à AFP. A preponderância xiita no governo gera desconfiança.
"O governo os vê como inimigos políticos, guerreiros sunitas que pertenciam à Al-Qaeda ou a outros grupos rebeldes e que, portanto, devem ser punidos", afirma o deputado curdo Mahmud Othman.
As autoridades americanas anunciaram que farão o máximo para que a transição aconteça sem sobressaltos. "Eles pagaram um alto preço combatendo a Al-Qaeda ao nosso lado e estaremos aqui para acompanhá-los", declarou o general Jeffrey Hammond, comandante do Exército americano em Bagdá.
Hammond estimulou o governo iraquiano a fazer o mesmo, já que o mundo inteiro observa o que vai acontecer com os Sahwas, especialmente o início em Bagdá.
O general advertiu que as pessoas que não encontram emprego podem se revoltar nas ruas e acabar sendo recrutadas pela Al-Qaeda. Para Joost Hiltermann, especialista em Oriente Médio do International Crisis Group (ICG), "o maior problema não é a transferência de comando, e sim a integração destes homens à sociedade civil".