postado em 01/10/2008 07:56
BAGDÁ - O Exército dos Estados Unidos começou nesta quarta-feira (1º/10) a transferir ao governo iraquiano o controle de 100 mil milicianos antiAl-Qaeda, que ajudaram os americanos a melhorar a segurança no último ano no Iraque, mas cuja mudança de lado gera certa preocupação.
"A força internacional no Iraque transfere hoje a responsabilidade dos Filhos do Iraque ao governo iraquiano", declarou o tenente David Russel. "A transferência está acontecendo", confirmou o conselheiro para segurança nacional do governo iraquiano, Mowaffak al-Rubai.
Esta primeira transferência para a bandeira iraquiana das brigadas, mais conhecidas com o nome de Sahwa ("despertar" em árabe), que reúne em sua maioria ex-insurgentes sunitas aliados agora ao Exército americano, envolve 54.000 milicianos, mobilizados na província de Bagdá.
O governo iraquiano, controlado pelos xiitas, começará a pagar o salário dos milicianos a partir dl 31 de outubro. Até agora o Exército dos Estados Unidos pagava 150 dólares por mês por cada miliciano. A cessão das Sahwas das outras regiões sunitas acontecerá progressivamente.
Estas brigadas, que foram criadas em setembro de 2006 pelos líderes das tribos sunitas da província ocidental de Al-Anbar antes de se espalharem para outras regiões, infligiram muitas derrotas à Al-Qaeda, contribuindo para a perda de influência do grupo terrorista.
Os milicianos contribuíram amplamente nos últimos 12 meses para reduzir a presença da organização terrorista e reduzir a violência em áreas que desde 2003 eram focos de insurreição contra os militares americanos. "O governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki está impaciente para assumir a responsabilidade dos Sahwas, pois significa um importante êxito para a reconciliação nacional", afirmou o conselheiro para segurança nacional.
Dos 100 mil membros registrados das Sahwas, 54 mil estão em Bagdá e 29 mil nas províncias do norte de Salahedin, Diyala, Kirkuk e Nínive. O governo iraquiano se comprometeu a alistar 20% dos Sahwas em suas forças de segurança e a obter empregos para os demais, tanto no setor público como no privado.
O destino destes últimos é o que provoca inquietação. "O que acontecerá com os 80% restantes?", questiona Abu Safan, líder Sahwa de Adhamiya, um bairro sunita da zona norte da capital que no passado foi um reduto da insurgência. "Devem ser protegidos, porque são alvos da Al-Qaeda. Estamos satisfeitos de nos alinharmos com o governo, mas a incerteza persiste", explicou.
A preponderância xiita no governo gera desconfiança. "O governo os vê como inimigos políticos, guerreiros sunitas que pertenciam à Al-Qaeda ou a outros grupos rebeldes e que, portanto, devem ser punidos", afirma o deputado curdo Mahmud Othman.
As autoridades americanas anunciaram que farão o máximo para que a transição aconteça sem sobressaltos. "Eles pagaram um alto preço combatendo a Al-Qaeda ao nosso lado e estaremos aqui para acompanhá-los", declarou o general Jeffrey Hammond, comandante do Exército americano em Bagdá.
Hammond estimulou o governo iraquiano a fazer o mesmo, já que o mundo inteiro observa o que vai acontecer com os Sahwas, especialmente o início em Bagdá. O general advertiu que as pessoas que não encontram emprego podem se revoltar nas ruas e acabar sendo recrutadas pela Al-Qaeda.
Para Joost Hiltermann, especialista em Oriente Médio do International Crisis Group (ICG), "o maior problema não é a transferência de comando, e sim a integração destes homens à sociedade civil".