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Reinava o caos na Scotland Yard no dia em que Jean Charles foi morto

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postado em 01/10/2008 13:46
LONDRES - A polícia temia um ataque iminente em Londres e em outras cidades britânicas, depois dos atentados fracassados de 21 de julho de 2005 e no centro da investigação reinava o caos, declarou nesta quarta-feira (1º/10) um oficial da Scotland Yard para explicar o nervosismo que imperava no dia em que os policiais britânicos mataram o brasileiro Jean Charles de Menezes. No oitavo dia do inquérito público sobre a morte do eletricista mineiro realizado num tribunal improvisado num campo de críquete do sul de Londres, um grupo de ativistas se manifestou exibindo cartazes que exigem "Justiça para Jean Charles". O detetive Jon Boutcher, principal depoente do dia, admitiu que o ambiente no controle da Scotland Yard, de onde dirigiu a operação que acabou na morte do brasileiro, "era caótico". Havia muitos policiais extras e comunicações de rádio confusas, admitiu Boutcher, destacando que o medo de outros atentados era tão grande que o comando antiterrorista da Scotland Yard colocou em alerta as unidades do Exército. Boutcher explicou à corte que foi designado pelos superiores como responsável pela operação de identificar e encontrar as pessoas que cometeram os ataques fracassados de 21 de julho, ocorridos duas semanas depois dos atentados de 7 de julho em Londres, quando 52 civis morreram. "Meu temor era que os terroristas podiam ter escapado e voltariam a atacar Londres", declarou o inspetor ao júri de 11 pessoas, que deverão decidir se a morte do brasileiro de 27 anos foi homicídio. Se isso for decidido, os policiais envolvidos, até então isentos de culpa, poderão ser processados. "Eu estava consciente, depois dos atentados de 7 de julho, que existia uma fábrica de explosivos com material suficiente para fabricar novas bombas", acrescentou Boutcher, insistindo no clima de nervosismo que envolvia seus comandandos e que acaboou levando à morte do suspeito inocente. Na véspera, a detetive Angela Scott contou que os policiais que confundiram Jean Charles com o terrorista Hussain Osman chegaram a achar que ele não era o suspeito em questão, mas depois descartaram a hipótese e fuzilaram o brasileiro. A agente explicou que, quando Jean Charles chegou à estação de metrô de Stockwell, a equipe de vigilância comunicou ao comando da Scotland Yard que não acreditava que o homem que estavam seguindo fosse Osman, suspeito de ter participado nos fracassados atentados em Londres. A Scotland Yard decidiu então que o homem que seguiam devia ser preso e interrogado. Mas, em seguida, os policiais mudaram de opinião, minutos antes de Jean Charles entrar em Stockwell, onde dois agentes da Scotland Yard o mataram com sete tiros na cabeça, informou a detetive. Na segunda-feira, o inquérito público sobre a morte de Jean Charles entrou em sua segunda semana com o depoimento do então chefe de todas as operações antiterroristas na Grã-Bretanha, Peter Clarke. Enquanto o advogado dos familiares de Jean Charles, Michael Mansfield, seguia com sua estratégia de demonstrar as diversas falhas cometidas pela Polícia britânica na operação na qual o brasileiro morreu, Clarke mencionou a "intensa pressão" que havia naqueles dias sobre a Polícia. Sessenta e cinco policiais prestarão depoimento neste inquérito sobre a morte de Jean Charles, dos quais 49 o farão em anonimato, separados da imprensa e do público por uma grande tela que divide a sala da corte.

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