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Entrevista com Françoise Barré-Sinoussi: "O Brasil é um exemplo para todo o mundo"

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postado em 07/10/2008 07:53
Phnom Penh, capital do Camboja, se preparava para encerrar mais um dia como qualquer outro. Mas o 6 de outubro de 2008 teve sabor especial para Françoise Barré-Sinoussi ; a francesa visitava o país, onde assinaria acordos para cooperação em pesquisa sobre Aids. Às 17h15 desta segunda-feira (7h15 em Brasília), em entrevista ao Correio, por telefone, ela custava a acreditar que poucos minutos antes havia recebido a melhor notícia de sua vida. A diretora da Unidade de Regulação de Infecções por Retrovírus do Instituto Pasteur (em Paris) tinha sido informada de que se tornara um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina. Françoise jamais esperava receber a distinção, ainda que tivesse a exata noção da importância da descoberta do HIV, o vírus causador da Aids ; façanha obtida em 1983, ao lado dos cientistas Luc Montagnier (também o mais novo vencedor do Nobel) e Robert Gallo. Em meio a sorrisos, a infectologista parisiense de 61 anos elogiou a atuação do Brasil no combate à Aids e admitiu que a palavra ;cura; ainda está longe de ser uma realidade. Ouça entrevista em inglês com a francesa Françoise Barré-Sinoussi O que é ganhar o Nobel de Medicina? Eu recebi a notícia alguns minutos atrás por parte de uma rádio francesa, para lhe dizer a verdade. Isso porque eu não estou na França agora, estou no Sudeste da Ásia para trabalhar em cooperação no combate ao vírus da Aids. Então, eu ainda estou muito tocada e ainda não me dei conta do que aconteceu (risos). Quando descobriu o vírus HIV, imaginava estar diante de uma doença tão terrível para a humanidade? É claro que percebemos que estávamos diante de uma descoberta importante, mas naquela época ainda não imaginávamos a intensidade que a epidemia ganharia. Só percebemos isso ao compreendermos que essa infecção estava se espalhando por todo o mundo. É óbvio que após descobrirmos o HIV, começamos a tentar desenvolver um kit de diagnóstico para acelerar a detecção de infecção pelo vírus. Tentamos obter mais informações sobre os vírus, o ciclo de replicação dos retrovírus e o desenvolvimento de métodos terapêuticos. A medicina ainda está longe da cura da Aids? A cura é uma utopia? Ainda não podemos falar sobre cura, mas podemos ter tratamentos como os que vocês têm no Brasil. Temos um esforço internacional para garantir acesso dos pacientes infectados pelo HIV à terapia de antiretrovirais. Nós realmente achamos que é um grande progresso em benefício da população mundial. Há ainda muito a fazer, especialmente em relação ao desenvolvimento de vacinas. Como analisa o papel do Brasil na prevenção e no tratamento da doença? Eu sei que o Brasil é um exemplo na tomada de decisões sobre o tratamento de pacientes soropositivos. É um exemplo para todo o mundo. O Brasil foi um dos primeiros países a oferecer gratuitamente o tratamento antiretroviral aos pacientes com Aids e a desenvolver medicamentos da próxima geração. De que forma o Nobel de Medicina deve mudar seus planos e projetos? (risos) Para lhe dizer a verdade, eu realmente ainda não sei. Minha meta, e não o meu plano, é continuar a trabalhar nessa doença até o resto da vida. Ainda não pensei também no que vou fazer com o prêmio de US$ 315 mil. Estou muito sensibilizada com esse prêmio.

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