postado em 09/10/2008 13:26
OSLO - No ano em que se comemora o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dissidentes chineses e militantes russos surgem como favoritos ao prêmio Nobel da Paz, que será concedido sexta-feira em Oslo. A título preventivo, as autoridades chinesas já se pronunciaram nesta quinta-feira contra a atribuição do prêmio para um dissidente.
Após os Jogos Olímpicos de Pequim, sem que tenham sido constatados os avanços esperados em matéria de Direitos Humanos, os olhares se voltam precisamente para a China. Os dissidentes Gao Zhisheng e Hu Jia, ambos privados de liberdade em seu país, são sérios candidatos, segundo o diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo (PRIO).
Devido ao fato de a lista com os 197 candidatos deste ano não ter sido divulgada, os observadores se limitam a fazer simples conjeturas.
"O comitê Nobel se interessa provavelmente pela China há anos, mas é possível que até agora nunca tenha encontrado candidatos de peso, e pode ser também que não quisesse interferir nos preparativos para os Jogos Olímpicos", declarou à AFP Toennesson, diretor do PRIO.
Dezenove anos depois do prêmio outorgado ao Dalai Lama, a China poderá ficar incomodada caso o Nobel seja concedido a Gao Zhisheng, advogado autodidata atualmente expulso da profissão, ou a Hu Jia, militante dos Direitos Humanos, meio ambiente e das vítimas da Aids.
O Ministério chinês das Relações Exteriores chamou Hu Jia de "criminoso" nesta quinta-feira e advertiu o comitê Nobel norueguês para que evite qualquer "ingerência". Entre os demais dissidentes que poderão receber o prêmio estão Wei Jingsheng e Rebiya Kadeer.
O Nobel também poderá ser dado a um militante russo dos Direitos Humanos, como a advogada Lidia Iusupova, ex-diretora da ONG Memorial na Chechênia, ou a Svetlana Gannushkina, que luta pelos direitos dos refugiados na Rússia.
No entanto, conceder o prêmio a um dissidente chinês ou russo poderia ser contraproducente, segundo Niels Butenschoen, pesquisador do Centro Norueguês de Direitos Humanos da Universidade de Oslo.
Segundo Jan Egeland, ex-coordenador dos serviços de emergência da ONU e atual diretor do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais, é o momento de se enfatizar os conflitos esquecidos da África, como o que devasta a República Democrática do Congo.
"É interessante ampliar o conceito de paz, mas não se deve romper com a definição inicial, ou seja, com aqueles e aquelas que trabalham para as vítimas de guerras e contra os conflitos armados", declarou Egeland à AFP.
A Coalizão contra as armas de fragmentação também poderá ser premiada, depois que mais de cem países concordaram em proibir as bombas de fragmentação, mortais para os civis.
Outros nomes apontados são a ex-refém franco-colombiana das Farc Ingrid Betancourt, o líder da oposição zimbabuana Morgan Tsvangirai, o bonzo vietnamita Thich Quang Do, o mediador finlandês da ONU Martti Ahtisaari, a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), em plena disparada dos preços.
No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido conjuntamente para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e para o Painel de especialistas da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), por sua atuação na luta contra o aquecimento global.