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Iranianos optam pelo democrata Barack Obama

Cidadãos do país considerado o maior desafio de Washington no momento acreditam na diplomacia de Barack Obama. Discurso de McCain é associado a uma resposta bélica ao programa nuclear de Teerã

postado em 28/10/2008 07:55
Enquanto a corrida para a Casa Branca chega perto do fim nos Estados Unidos, longe dali um país assiste atento. Os iranianos não só querem saber quem vai ganhar a eleição, mas discutem qual dos dois, John McCain ou Barack Obama, seria melhor para o Irã ; atualmente, o maior desafeto de Washington. A população acompanhou os debates presidenciais e busca se informar sobre os candidatos nos jornais locais. Por enquanto, a escolha pelo diálogo faz de Obama o favorito no Irã. Para o iraniano Saeid Eanaashari, não há dúvidas de quem será o melhor presidente norte-americano para seu país. ;Obama, é claro! Ele é um homem da democracia e tem uma melhor perspectiva sobre os assuntos de política exterior;, disse o engenheiro eletricista ao Correio. De acordo com Saeid, pelo menos em Teerã, onde ele vive com a família, a maioria é a favor do democrata. Apesar da esperança no diálogo, ele não confia no presidente do Irã. ;Mahmud Ahmadinejad é muito instável, não sei se ele se encontraria com Obama.; Em Brasília há mais de 30 anos, o iraniano Bahram Khorramchahy aposta na mudança. ;Obama defende a democracia e o diálogo. Ele é fruto da globalização, é o candidato das minorias que agora, felizmente, representa a minoria;, afirmou o empresário. Bahram acompanha as eleições de perto. Sua mulher e as filhas moram em Nova York e ele viaja para lá ao menos uma vez por mês. ;Como cidadão do mundo, torço pelo diálogo e não pela força bruta;. Ele acredita que o democrata poderá fazer as pazes com o Irã. ;Os EUA precisam de um presidente negociador. McCain tem um discurso muito militar. Talvez Obama possa contratá-lo como ministro da Defesa;, brincou. Ouça opinião do iraniano Bahram Khorramchahy Palavras de paz, justiça e diálogo Em seu discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas, no mês passado, o presidente Mahmud Ahmadinejad ressaltou que o Irã opta sempre pelo diálogo e rejeita alegações ilícitas. Ele salientou que, para o estabelecimento da justiça, é necessário o sacrifício e o serviço à humanidade. O presidente iraniano sublinhou que Deus não criou o ser humano para a agressão, o derramamento de sangue, o rancor e a destruição. Ele fez dos homens seus representantes na Terra, preparando uma vida repleta de beleza, liberdade e justiça. O presidente, à frente dessa cúpula dos líderes mundiais, ao comentar o problema na Palestina, relembrou que a República Islâmica do Irã respeita a resistência do povo oprimido da Palestina e apóia soluções humanas ao caso, baseadas num livre referendo do povo palestino para estabelecer um novo governo, proposta essa, inclusive, que foi submetida ao secretário-geral da ONU. A República Islâmica do Irã acredita que o povo palestino, regressando às suas terras e com uma eleição livre praticada por muçulmanos, cristãos e judeus, pode definir seu destino. Faz-se necessário que as nações democráticas recebam bem esse panorama, para a manutenção da paz e da democracia, ao contrário daquilo que o regime sionista propaga. Todos têm consciência de que há uma diferença entre o judaísmo e o sionismo e de que há judeus em todo o mundo insubordinados ao sionismo, por causa da violação dos direitos humanos nos territórios invadidos, da matança de mulheres e crianças indefesas mostrada na mídia mundial. A República Islâmica do Irã tem uma visão completamente diferente sobre os invasores da Terra Santa da Palestina daquela compartilhada entre os seguidores do judaísmo, os quais contam com deputados no Parlamento iraniano. O Irã respeita toda fé, sempre com interesse no diálogo entre elas para descobrir os pontos comuns das três grandes religiões divinas. Para reiterar isso, pode-se mencionar, por exemplo, a recente declaração emitida pelo Vaticano sobre a cooperação entre cientistas da República Islâmica do Irã e cientistas cristãos na Santa Sé. O Irã também iniciou o diálogo entre as religiões, sobre pacifismo e justiça, o que lhe rendeu adeptos pelo mundo e provou a consciência pública da humanidade justa. Atualmente, o mundo expressa sua rejeição e seu protesto contra a violação dos direitos humanos e a matança do povo palestino. Um dos caminhos para a justiça no mundo é o apoio à idéia da ampliação do número de membros permanentes e não-permanentes no Conselho de Segurança da ONU, levando-se em conta que os países em desenvolvimento têm um papel efetivo nas decisões mundiais. O presidente iraniano, em seu discurso, sublinhou o convite à justiça, à paz e à democracia, apresentando suas soluções. Nele, propõe não só um caminho para a realização do referendo livre do povo palestino, como ainda o desarmamento e a proibição da aquisição de novas armas nucleares por Israel. A República Islâmica do Irã é, desde o princípio, contra armamentos nucleares e acredita que a potência verdadeira de uma nação será estabelecida pela união do povo justiceiro e não pela força destrutiva nuclear. O regime sionista possui armas nucleares ilícitas, não é signatário do Tratado de Não-Proliferação e, mesmo assim, é incapaz de subjugar o povo palestino em 60 anos de invasão. Rivais têm táticas distintas McCain e Obama têm opiniões distintas sobre o Irã. O republicano o considera uma ameaça à segurança nacional. ;O Irã patrocina o Hamas e o Hezbollah. E continua sendo o maior patrocinador do terrorismo no mundo;, afirmou o candidato. McCain defende a ampliação das sanções ao país e uma campanha mundial para que as pessoas não façam negócios com empresas iranianas ou internacionais que tenham investimentos lá. No Irã, poucos acreditam que a política de pulso firme de John McCain seja o que o regime de Ahmadinejad necessita. ;Eu acho que McCain deveria ser eleito, os Estados Unidos precisam de um homem forte e experiente para lidar com essa região;, afirmou à rede de TV americana NBC um estudante iraniano que não quis se identificar. Obama é contra as idéias de George W. Bush de aproveitar as forças militares no Iraque para se defender do Irã. Ele diz que daria opções de negociação a Ahmadinejad. ;Se o Irã abandonar seu programa nuclear e o apoio ao terrorismo, vamos oferecer incentivos, como investimentos, além de dar um passo para uma relação diplomática normal.; O governo iraniano anunciou não ter preferência por nenhum dos candidatos. ;Não temos nenhuma posição oficial, cabe ao povo norte-americano decidir. Nós esperamos ver se na prática os EUA persistirão em seus erros ou se conseguirão repará-los;, disse ontem o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Hassan Qashqavi. A declaração foi divulgada depois de o presidente do Parlamento do Irã, Ali Larijani, ter expressado sua preferência por Obama na semana passada.

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