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Piadas raciais são destaque nos noticiários às vésperas das eleições nos EUA

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postado em 30/10/2008 11:49
WASHINGTON - À medida que Barack Obama se aproxima da possibilidade de ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o tema racial ganha força nos meios de comunicação com a exibição este mês de dois programas de notícias apresentados por humoristas negros. O assunto, no entanto, continua provocando polêmica, já que alguns celebram o surgimento de vozes das minorias no horário nobre e outros criticam o fato, afirmando que as piadas destes humoristas apelam para estereótipos que mostram o pouco que se mudou sobre o racismo nos Estados Unidos. Na estréia do "Chocolate News" ("Notícias de Chocolate"), um programa no canal a cabo Comedy Central, o humorista David Alan Grier brincou sobre a herança racial mesclada de Obama. "Se eu gostaria de ter um presidente negro-negro? Com certeza", exclamou Grier. "Quero um negro que não possa parar um táxi em Manhattan. Tão negro que quando colocar um pé no edifício da ONU, os líderes estrangeiros digam 'não, este filho da puta não'", afirmou. Grieg teve a idéia do programa há mais de um ano, depois de ver John Stewart, apresentador do Daily Show, obter uma reação incômoda da audiência ao tentar fazer uma piada sobre Obama. "David ouviu aquilo e pensou: 'Espera um pouco, sou a pessoa que sem dúvidas pode brincar com Barack Obama'" disse Lauren Corrao, diretor de programação da Comedy Central. Em contraste ao satírico e desenvolto "Chocolate News", carregado de palavras pesadas, o programa semanal do comediante D.L. Hughley na rede CNN tenta combinar p ponto de vista de um humorista com a cultura de um canal de notícias. No primeiro episódio de "D.L. Hughley Breaks the News" foram analisadas imagens populares de Hollywood que mostram negros como presidente, simpatizantes brancos da candidata republicana à vice-presidência Sarah Palin foram entrevistadas e, no fim, o apresentador tentou convencer o ex-secretário de imprensa da Casa Branca Scott McClellan a declarar apoio a Obama. Porém, nem todos viraram fãs do programa. No blog 'blackpoliticalthought.com' uma pessoa considerou o programa "ofensivo, perpetuador dos estereótipos negativos que perseguiram os negros nos Estados Unidos por muito tempo". A mesma pessoa criticou os comentários de Hughley de que o sistema de saúde de Obama daria a todos dentes de ouro e a participação de um convidado vestido como cafetão que disse: "Os políticos são cafetões e os eleitores são as prostitutas". Uma porta-voz da CNN enviou um comunicado no qual afirmava que "este é um programa de humor e não se espera que as pessoas concordem com D.L. sempre". "Este foi o primeiro dia e o programa continuará sendo desenvolvido", acrescenta o texto. Enquanto o surgimento do humor racial no fluxo de notícias é um terreno desconhecido, as piadas polêmicas sobre raça e preconceito sempre foram fonte de criação para os humoristas, como Richard Pryor, Paul Mooney, Eddie Murphy e Chris Rock. Os comediantes podem utilizar o humor para gerar discussões que não acontecem de outra forma na sociedade, segundo Gary Weaver, professor de estudos interculturais na Universidade American. "Com humor é possível brincar com outra raça ou com você mesmo sem ser tão duro, especialmente no caso de críticas pessoais", disse. "Os negros às vezes evitam discutir sobre raça pela preocupação de que muito papo racial possa dar aos brancos uma desculpa para não votar em Obama porque ele é negro". "O segundo é que, com certeza, na mente de vários afro-americanos estão os assassinatos de Martin Luther King e John F. Kennedy, e o medo de que os racistas possam usar a violência, ou seja, que não façamos um grande assunto do fato de que (Obama) seja negro", completa.

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