postado em 31/10/2008 10:35
WASHINGTON - A 'Obamania' invadiu o mundo e, em nível internacional, o candidato democrata Barack Obama parece ser o preferido para vencer as eleições para a presidência dos Estados Unidos, mas esta popularidade não implica que suas idéias sejam realmente conhecidas.
Obama é o candidato favorito de 42% das cidades do mundo, enquanto apenas 12% votariam em seu adversário republicano John McCain se tivessem a oportunidade de fazê-lo, segundo uma ampla pesquisa da BBC realizada em 22 países com uma amostragem de 22.500 pessoas.
Na Europa, o primeiro negro com possibilidades de virar presidente americano é particularmente popular, com 80% de opiniões favoráveis na França e Alemanha. Mas, para alguns especialistas, existe uma defasagem enorme entre a imagem que o democrata projeta e a realidade de seu programa.
"O atual presidente, George W. Bush, terminou encarnando o pior dos Estados Unidos: filho da pior rusticidade européia, embriagado pela religião e adepto das armas, enquanto Obama personifica o que há de bom nos Estados Unidos, um filho da Europa, jovem e cheio de esperança, no coração de uma cidade multi-racial. Mas estas duas visões têm uma grande cota de fantasia", observa Max Wolff, professor da Universidade New School de Nova York.
Nos Estados Unidos como na Europa, Obama aparece como aquele que pode proporcionar a mudança. Mas em dois assuntos de peso como a economia ou a política externa, não se pode esperar uma mudança de 180 graus, ainda segundo Wolff.
"Obama conta entre seus conselheiros financeiros com Austan Dean Golsbee, da Universidade de Chicago, conhecida por ter o programa neoliberal mais ortodoxo da terra; e Paul Volcker, artesão da política monetária de (Ronald) Reagan, um falcão em termos de inflação", acrescentou.
"Na política externa, também se vê 'novos rostos", afirma o especialista, ao citar na equipe democrata o companheiro de chapa de Obama, Joe Biden, "um dos partidários da invasão no Iraque em 2003", e Zbigniew Brzezinski, conselheiro de Segurança na presidência de Jimmy Carter, "considerado um dos responsáveis pelos talibãs".
Para Julien Vaisse, pesquisador francês da Brookings Institution de Washington, é preciso analisar o projeto político, social e econômico de Obama dentro de uma perspectiva americana. "Os democratas estão muito mais perto dos republicanos que os europeus", enfatiza.
A extensão da cobertura social anunciada por Obama, por exemplo, está muito longe do sistema europeu de um acesso garantido à atendimento médico para todos, explica.
Quanto à pena de morte, não parece, a princípio, contrário, apesar de Illinois, estado pelo qual é senador, introduzir mecanismos para dar maiores garantias ao processo, como verificação da neutralidade do júri e filmagem dos interrogatórios, comentou Vaisse. "Quanto ao porte de armas, não propôs nenhuma regulamentação especial".
"Não digo que não seja o homem que as pessoas acreditam que é, só digo que o fascínio que ele exerce, seu carisma similar ao de Bill Clinton, levaram - principalmente os europeus - a esquecer que ele é norte-americano", acrescenta.
O historiador, que acaba de publicar "História do neoconservadorismo nos Estados Unidos", considera errônea qualquer analogia com o tabuleiro político europeu. "Dizer aqui que alguém é socialista é o pior dos insultos", recorda Vaisse, enfatizando o quanto o eixo político se deslocou para a direita nos últimos anos nos Estados Unidos.
Ainda de acordo Vaisse, fora os efeitos que provocam alguns de seus pronunciamentos, Obama é "um corpo plástico indiferenciado", voluntariamente bastante vago sobre suas intenções. "É uma tática para reunir um máximo de pessoas e para que possamos projetar nele os Estados Unidos que amamos", conclui.