postado em 01/11/2008 10:21
Beverly Kaufman, secretária geral do condado de Harris, no Texas, recebeu neste mês dezenas de relatos de distritos que enfrentavam um pesadelo eleitoral nos Estados Unidos: as máquinas de votação estavam invertendo os votos de um candidato presidencial para outro.
O erro ocorreu durante a votação antecipada para a Casa Branca e o Congresso, permitida em mais de 30 dos 50 Estados americanos neste ano. Quando eleitores escolhiam a opção de votar no Partido Democrata em todas as disputas, no campo do presidente, em vez de Barack Obama, o voto ia para o republicano John McCain. "Não sei mais como pedir a eleitores que confiram o voto e fiquem atentos", disse Kaufman.
E ela não foi a única. A quantidade de problemas na votação já levou advogados, voluntários, membros dos partidos e organizadores eleitorais por todo o país a elevar o alerta para a votação da próxima terça, quando o alto comparecimento deve maximizar as panes.
Nos EUA, cada Estado define seu sistema de votação. Alguns vão usar cédulas, outros urnas eletrônicas, outros terão cartões perfurados e lidos por sistemas ópticos, e a maioria terá mais de um sistema misturado.
Cada tipo apresenta uma lista de problemas. No caso de Harris, o erro foi causado porque as máquinas usadas, em que o voto é dado por toques na tela, estavam descalibradas. Questão pior é o uso disseminado de máquinas que não imprimem registros de votos --algo que acontece em ao menos 19 Estados. Em caso de pane ou suspeita de erro, não há como conferir o resultado.
"Muitos Estados estão usando tecnologias inéditas. Os eleitores não sabem usar as máquinas e os funcionários das seções não sabem reagir a problemas", afirma Adam Skaggs, do Centro Brennan de Justiça, da Universidade de Nova York.
Em um estudo do centro, dez Estados foram classificados como tendo sistema eleitoral "inadequado" ou em que melhorias são urgentes neste ano: Colorado, Texas, Virgínia, Utah, Carolina do Sul, Tennessee, Delaware, Kentucky, Louisiana e Nova Jersey. No Colorado e na Virgínia, a disputa entre John McCain e Barack Obama continua indefinida --e qualquer margem de votos poderá ser decisiva.
Barrados
Mas, antes de chegar às urnas, os eleitores enfrentam outro desafio: o de ter o registro eleitoral aceito. As exigências para registro eleitoral variam em cada Estado. Alguns eleitores estão sendo rejeitados por erros em detalhes dos formulários. Outros, porque suas informações eleitorais não batem com os de outras bases de dados, como a da Seguridade Social --mesmo que seja por diferença de ortografia ou mudança de endereço.
Partidos e grupos independentes já entraram com dezenas de processos na Justiça desafiando registros eleitorais em Estados críticos para a vitória, como Colorado, Virgínia e Pensilvânia. No sistema eleitoral americano, em que o presidente é escolhido por um Colégio Eleitoral formados por 538 delegados alocados pelos 50 Estados de acordo com o resultado do voto popular, esses são alguns dos Estados-chave.
As soluções para os problemas nos registros também são frágeis. Se chegarem às urnas e não encontrarem seu nome nas listas de eleitores, americanos podem dar um voto provisório, que precisa ser confirmado depois. Muitos acabam inutilizados --até dois terços são inutilizados em alguns Estados, segundo Skaggs. E, dos que contam, grande parte é vulnerável a questionamentos na Justiça.
Preocupado com a escalada de problemas, o Departamento de Justiça dos EUA divulgou nota ontem assegurando que "permanece comprometido com a vigorosa aplicação de leis federais (...) que protegem o direito de voto, o valor de votos dados honestamente e a integridade das eleições do país". Apesar do cenário, Skaggs afirma que a pressão popular fez com que a maioria das tentativas de impedir eleitores de votar não tenha sido bem sucedida até agora.
"Chegaremos ao fim da eleição sabendo que haverá problemas, mas confiantes de que a votação será o mais suave possível."