postado em 02/11/2008 08:51
A sede do Partido Comunista americano, no bairro de Chelsea, em Nova York, vive uma segunda juventude hoje, em meio à crise financeira, segundo seus membros, que ainda defendem as velhas teses marxistas-leninistas. No número 235W da rua 23, em frente ao hotel Chelsea, símbolo da boêmia dos anos 60 e 70, funciona também uma imobiliária, cujos donos são comunistas.
"Recebemos cada vez mais ligações de pessoas que querem se informar e se interessam por nós devido à crise financeira, porque estamos em um momento de mudanças e acredito que o Partido Comunista terá papel fundamental no período que se inicia", disse Libero Della Piana, 36 anos, filho de pai italiano e mãe afro-descendente, atual presidente do partido no estado de Nova York.
Fundado em 1919, o Partido Comunista americano era considerado apenas um grupo que fazia propaganda para a "potência estrangeira" (a União Soviética) durante a guerra fria, e seus membros eram com freqüência demitidos de seus empregos durante o período do Macartismo, nos anos 50.
O Partido, dirigido em escala nacional por Sam Webb, conta hoje com "entre 3.000 e 3.500 membros", mas Libero Della Piana e Erica Smiley, de 28 anos, coordenadores da "Liga dos jovens comunistas", instalada no mesmo edifício, afirmam que o "caos atual" engrossará as fileiras de simpatizantes.
Longe de querer 'brincar sozinhos', os comunistas americanos querem "construir a base mais ampla possível, com os movimentos de mulheres, estudantes, sindicatos, para derrotar a direita". "Acreditamos que o momento chegou", declarou.
"As preocupações dos jovens são a guerra, o desemprego e a cobertura médica, e nossas propostas são boas", indicou por sua vez Erica Smiley. "A crise nos mostrou que o mercado não pode se regular sozinho, e que, ao deixar que isso acontecesse, o governo enlouqueceu a máquina de dar créditos baseados em uma fantasia", comentou Della Piana.
"Vamos ficar menos na defensiva, pela primeira vez desde os anos 80, e teremos nossa opinião para expressar na reconstrução dos Estados Unidos sobre novas bases, e já não para satisfazer a avidez de uns poucos", acrescentou.
Nos 500 metros quadrados recentemente reformados da sede, onde as obras completas de Lenin e Marx dividem a estante com livros sobre o racismo e a causa feminista, houve uma reunião na segunda-feira, mas muitos militantes estão ausentes. "Estão em campanha para incentivar as pessoas a votarem", explicou Bill Davis, aposentado de 65 anos filiado ao partido há 37.
Ainda que não tenha declarado oficialmente seu respaldo ao candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, o partido o apóia abertamente e a maioria de seus militantes usam buttons de Obama.
"Vamos nos reunir com nossos camaradas da América Latina e do resto do mundo no final de novembro, em São Paulo, e explicaremos a eles a situação nos Estados Unidos após a eleição presidencial, embora o Komintern (Internacional Comunista) não exista mais e cada partido tenha suas especificidades", concluiu Libero Della Piana.