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Casos de perseguição a cristãos assombram a Ásia

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postado em 02/11/2008 10:11
;O quanto alguém pode tolerar ser forçado a se converter ao cristianismo? Quando nos opomos a isso, eles nos matam. Deveríamos ficar em silêncio?; O desabafo de Nihar Ranjan Nayak, morador de Bhubaneshwar ; capital do estado de Orissa (leste da Índia) ;, é uma amostra de quão frágeis são as relações entre os hindus e os cristãos na chamada ;cidade dos templos;. O indiano conta ao Correio que tudo começou em 23 de agosto passado, quando o líder hindu Swani Laxamananda Saraswati foi assassinado em um ataque com granadas. A polícia acusa os maoístas do Partido Comunista pelo atentado, mas os hindus culpam os cristãos. Questionado se a reação dos seguidores não foi exagerada, Nayak é incisivo: ;E se alguém matasse o papa? Qual seria sua reação?;. Desde então, 60 dos 24 milhões de indianos seguidores de Cristo foram mortos, incluindo o padre Bernard Digal. Freiras tiveram a castidade violada. A cerca de 4.336km da Índia, o médico iraquiano Layth Alhajjar, de 47 anos, viu amigos e colegas fugirem de Mossul. Situada a 400km de Bagdá, essa cidade de 1,8 milhão de habitantes é palco de um fenômeno semelhante. Pelo menos 1.800 famílias cristãs, ou 13 mil pessoas, têm sofrido ameaças e ataques no noroeste do Iraque. O governo do primeiro-ministro Nuri Al-Maliki ofereceu 1 milhão de dinares iraquianos (o equivalente a US$ 865) para cada família que retornar a Mossul. Layth culpa os próprios políticos cristãos pela morte de seis adeptos da mesma religião. ;Por favor, não culpem os muçulmanos por esses crimes;, pede o médico. ;Em 2005, a maior parte da minha cidade estava sob controle da rede Al-Qaeda e nenhum não-muçulmanos tinha sido morto. Agora, com Mossul nas mãos do Exército e da Guarda Nacional, isso tem ocorrido.; Segundo ele, os assassinos seriam soldados que usam carros oficiais do governo, cruzam livremente os postos de controle, explodem casas e voltam para suas bases. Em Cabul, fundamentalistas da milícia afegã Talibã mataram a tiros, em 20 de outubro, Gayle Williams, uma britânica que trabalhava para a organização de caridade cristã Servicing Emergency Relief and Vocation Enterprises (Serve). Outros casos de intolerância contra seguidores do cristianismo foram registrados nos últimos dias em países como Paquistão, Irã e Coréia do Norte. Presidente da Christian Freedom International (CFI) ; organização norte-americana de direitos humanos em defesa dos cristãos perseguidos, baseada em Front Royal (Virgínia) ;, Jim Jacobson explica que muitos iraquianos usam uma base fortemente religiosa para analisar a presença das forças norte-americanas em sua pátria. ;Esse discurso sobre um ;exército Cruzado; pode soar como retórica barata, mas apenas pergunte aos cristãos se seus perseguidores estão de brincadeira;, sugere. ;Apoiado pelos Estados Unidos, o governo do Iraque se transformou em ferramenta para várias facções islâmicas. Enquanto isso, os cristãos sequer têm uma milícia para ajudá-los a se proteger.; Nacionalismo Em relação à Índia, Jacobson liga a intimidação ao hindu Partido Bharatya Janata (BJP), de tendência nacionalista. ;Muito da violência parece orquestrada pelo BJP, que controla muitos estados indianos e disputou as eleições nacionais;, diz. De acordo com ele, a Índia é um país de maioria hindu, no qual religião e nacionalismo se fundem, algumas vezes de modo violento. ;É irônico que em uma era na qual as pessoas pensavam que a religião estava em declínio, a perseguição tenha se tornado tão grave.; John Dayal, secretário-geral do All India Christian Council, atribui parte da violência às gangues Hindutva. Desde agosto, seus membros queimaram 4.400 casas, destruíram 150 igrejas, estupraram muitas mulheres e forçaram o êxodo de 50 mil moradores do estado de Orissa ; 20 mil deles vivem hoje em campos de refugiados e em florestas. ;Esses grupos políticos Hindutva adotam a ideologia nazifascista de ;uma nação, um povo, uma cultura;. Mas a Índia tem muitas raças, tipos de linguagens e várias religiões. O país não pode ser forjado com uma única identidade religiosa e social;, explica Dayal. Ele acredita que os cristãos são alvo do fanatismo por formarem apenas 2,3% da população de 1,14 bilhão de pessoas. A perseguição não fica somente por conta dos Hindutva. Dayal ressalta que alguns estados desconsideraram a Constituição e aprovaram leis para restringir a liberdade religiosa. Tudo para calar o cristianismo, que chegou à Índia por meio de São Judas Tomé, um dos 12 apóstolos de Cristo.

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