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Eleições americanas: pesquisas são confiáveis?

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postado em 03/11/2008 10:49
WASHINGTON - Se pudéssemos confiar nas pesquisas, não teríamos nenhuma dúvida sobre o resultado da eleição presidencial americana. Os quase 200 estudos publicados nas últimas seis semanas deram o democrata Barack Obama como vencedor. No entanto, a 24 horas da votação, ninguém se atreve, inclusive entre os democratas, a dizer que o jogo está ganho. As pesquisas publicadas no domingo confirmaram as anteriores: Obama, primeiro candidato negro às portas da Casa Branca, apareceu com vantagem de 5 a 9 pontos, segundo diversos institutos. O site especializado independente RealClearPolitics (RCP), que calcula a média das pesquisas publicadas, deu vantagem de mais de 6 pontos ao candidato democrata. Entretanto, vários fatores influenciam nas previsões das pesquisas. O primeiro deles é a própria complexidade do processo eleitoral americano. A eleição presidencial é disputada menos a nível nacional que em cada um dos 50 Estados. Um candidato pode ganhar o voto popular e perder a Casa Branca. Isto aconteceu em 2000 com o democrata Al Gore que perdeu a disputa para George W. Bush, apesar de ter conseguido mais votos que seu adversário. Se um candidato ganha, mesmo por muito pouco, em um punhado de estados-chave, ele pode fazer a diferença se conquistar o voto dos grandes eleitores destes estados. É o que tem em mente fazer o republicano John McCain, que aposta todas as suas forças em estados como Ohio e Pensilvânia, que contam sozinhos 41 grandes eleitores. Há, no total, 538 grandes eleitores e o candidato precisa de pelo menos 270 para ser eleito presidente. Uma outra incógnita se refere ao famoso "efeito Bradley", do nome de Tom Bradley, o ex-prefeito negro de Los Angeles que perdeu para surpresa geral a eleição ao cargo de governador da Califórnia em 1982 em razão da cor de sua pele. Uma parte das pesquisas não ousaria dizer que em nenhuma circunstância os americanos não votariam para um negro e enganariam assim os institutos de pesquisas. Muitos especialistas duvidam no entanto da existência do "efeito Bradley" e destacam que a opinião evoluiu desde o início dos anos 80. A metodologia dos pesquisadores também é bastante questionada. Os pesquisadores superestimariam a participação dos negros e dos jovens. Segundo o campo republicano, a participação na eleição deve ser maior este ano, mas em todas as categorias de eleitores, o que deve atenuar a importância do "voto negro". Já aconteceu várias vezes de os institutos de pesquisa se enganarem. Em janeiro passado, nas primárias democratas, Obama era dado como favorito em New Hampshire, mas quem venceu a votação foi sua rival Hillary Clinton. Todo mundo lembra que, em 1948, os pesquisadores previram a vitória do republicano Thomas Dewey, líder durante toda a campanha, mas o vencedor foi o democrata Harry Truman. "Todos os sinais indicam que estamos caminho rumo a uma eleição que pode ser muito apertada para definir um vencedor na terça-feira", afirmou Bill McInturff, responsável dos estudos de opinião no campo republicano. Mas, desde 1948, nenhum candidato com vantagem de mais de cinco pontos a uma semana da eleição foi derrotado até agora. Segundo Allan Lichtman, um historiador especializado em eleições presidenciais na American University de Washington, "não há viradas de última hora". "Cada candidato que está perdendo nas pesquisas quer contar a história de Harry Truman. Mas não houve Harry Truman nos últimos 60 anos", disse.

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