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Três fatores decidiram eleição nos Estados Unidos

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postado em 05/11/2008 04:00
Barack Obama tornou-se presidente dos EUA graças à conjunção de três fatores: uma campanha bem organizada, a conjuntura econômica e política amplamente favorável e a condução desastrosa da candidatura de seu rival republicano. Em fevereiro de 2007, pouquíssima gente levou a sério quando um senador negro de nome estranho disse que estava lançando candidatura à presidência dos EUA. Era uma tarde fria de inverno na cidade de Springfield, capital de Illinois, quando Obama empolgou algumas centenas de pessoas que se juntaram para ouvi-lo diante da sede do governo local. No discurso, ele prometeu mudar o jeito de fazer política em Washington, mas a jornada, como ele mesmo definiu mais tarde, era "improvável". Nas primárias do partido, ele enfrentaria políticos mais experientes, como o ex-senador John Edwards, candidato a vice-presidente em 2004, e a senadora Hillary Clinton, guru e marca registrada dos democratas, considerada "candidata inevitável" do partido. Obama derrubou os adversários usando como base um exército de 2 milhões de voluntários e comitês que atuaram em todos os 50 Estados, registrando cerca de 4 milhões de novos eleitores em todo o país. Hillary, rival mais obstinada, achou que as primárias terminariam na Superterça, em 5 de fevereiro, quando 24 Estados votaram nos pré-candidatos dos dois partidos. Quando percebeu o erro estratégico, a ex-primeira-dama já estava derrotada. A grande marca da campanha de Obama - e o motivo pelo qual a eleição americana nunca mais será a mesma - foi o uso revolucionário da internet para arrecadar US$ 700 milhões e a utilização de diferentes canais de mídia para divulgar sua candidatura. Obama teve três momentos ruins em sua jornada improvável. O primeiro foi a derrota nas primárias de Ohio e do Texas, no início de março, quando Hillary tornou-se a adversária que mais perto chegou de emoldurá-lo como um aventureiro inexperiente. O autor do golpe teria sido um comercial que questionava a competência de Obama para resolver um problema que surgisse às 3 horas da madrugada. Raça O segundo contratempo ocorreu duas semanas depois, com os discursos inflamados de seu ex-pastor Jeremiah Wright. Obama conseguiu contornar a situação escrevendo um brilhante discurso sobre raça, proferido na Filadélfia, em que tratou da desigualdade e das tensões raciais. A última dificuldade veio logo após a convenção republicana, no início de setembro, quando John McCain disparou nas pesquisas após escolher a ultraconservadora governadora do Alasca, Sarah Palin, como vice. A euforia dos republicanos com Sarah durou duas semanas e logo se transformou no pior erro de McCain. Entrevistas desastrosas, o envolvimento em um escândalo de abuso de poder em seu Estado e a divulgação dos US$ 150 mil gastos em roupas para a campanha viraram tema de piada nos principais programas humorísticos do horário nobre. Em meio a uma enxurrada de críticas, duas semanas depois, McCain piorou as coisas ao suspender sua campanha, em setembro, para trabalhar pela aprovação do resgate financeiro de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca. Conjuntura No entanto, segundo analistas, a causa sistêmica para a vitória de Obama foi a conjuntura favorável aos democratas. A explosão da crise econômica em plena campanha assustou a maioria dos americanos. A impopularidade do presidente George W. Bush e da guerra no Iraque também facilitaram as coisas. Na campanha, Obama frisou que foi o único a se opor à guerra desde o início e defendeu um cronograma de retirada das tropas. No fim, até Bush e o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, concordaram com Obama e deixaram McCain pregando sozinho a permanência das tropas.

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