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Medvedev saúda eleição de Obama com salva de críticas contra os Estados Unidos

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postado em 05/11/2008 14:36
O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, pediu nesta quarta-feira (05/11) a seu futuro colega americano Barack Obama um "diálogo construtivo", acusando os Estados Unidos de todos os males e brandindo a ameaça de uma retaliação ofensiva ao projeto de escudo antiamericano na Europa. "Esperamos que nossos parceiros, a nova administração dos Estados Unidos, optem por manter boas relações" com a Rússia, declarou Medvedev em seu primeiro discurso à Nação desde sua eleição, em março passado. Em um comunicado, ele pediu a Obama "um diálogo construtivo" baseado na "confiança", num momento em que as relações entre Moscou e Washington se deterioraram muito sob a presidência do republicano George W. Bush. "A Rússia está convencida da necessidade do desenvolvimento progressivo das relações" bilaterais, destacou o chefe de Estado russo, afirmando que existe para isso "um potencial positivo e sólido". Porém, ele também denunciou no início de seu discurso a "política prepotente da administração americana" que, segundo ele, provocou a "tragédia de Tskhinvali". Medvedev se referia ao conflito armado de agosto passado entre Rússia e Geórgia. O estopim deste conflito foi o território separatista georgiano da Ossétia do Sul, que tem como capital Tskhinvali. "Não recuaremos no Cáucaso", sentenciou, afirmando que a guerra na Geórgia, um país pró-americano, "desestabilizou a ordem mundial". Ele também acusou os Estados Unidos de terem provocado a crise internacional "alimentando a bolha financeira para estimular seu crescimento" e "perdendo o mais elementar comedimento", antes de defender uma "reforma radical" do sistema financeiro internacional. Neste discurso de 85 minutos pronunciado no Kremlin diante de deputados e ministros, entre eles o premier Vladimir Putin, o presidente se esforçou para consolidar sua autoridade. Ele detalhou a retaliação militar que a Rússia pretende organizar contra a instalação do escudo antimísseis americano na Polônia e na República Tcheca, considerado por Moscou como uma ameaça. "Para neutralizar, em caso de necessidade, o sistema de defesa antimísseis, vamos instalar na região de Kaliningrad (enclave russo na União Européia) o complexo de mísseis Iskander", avisou, passando desta forma pela primeira vez das ameaças à ação. "Dessa mesma região, vamos impedir o funcionamento dos novos elementos do sistema de defesa antimísseis que os Estados Unidos pretendem instalar", acrescentou, sem dar mais detalhes. Medvedev também acusou Washington de ter "utilizado o conflito no Cáucaso como pretexto para introduzir no Mar Negro navios de guerra da Otan, e para impor ainda mais rapidamente à Europa o escudo antimísseis". Ele também expressou apoio à idéia de aumentar de quatro para seis anos a duração do mandato presidencial na Rússia, e sugeriu o fortalecimento do "controle do Poder Executivo" por meio da obrigação do governo de "prestar contas anualmente à Duma", a Câmara baixa do Parlamento. Para entrar em vigor, tal mudança precisa ser aprovada por dois terços do Parlamento, uma maioria que possui o partido Rússia Unida, presidido por Vladimir Putin, que para muitos observadores continua sendo o verdadeiro líder do Executivo no país. "O homem que toma as decisões não é Medvedev, é Putin. Isso também vale para os assuntos de política externa, como mostrou a guerra na Geórgia, e esta situação não vai mudar em um futuro próximo", considerou Maria Lipman, analista do Centro Carnegie de Moscou.

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