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Sucessão nos EUA: euforia causa preocupação

Festa global pela eleição de Obama e expectativa de que ele resolva os principais problemas do planeta dão lugar à dura realidade no cenário internacional. Assessores recomendam cautela

postado em 07/11/2008 07:48
Diante de uma platéia extasiada, o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, procurou desmanchar, em seu discurso de vitória, expectativas exageradas. ;O caminho pela frente é longo, e a subida, íngreme;, advertiu. Ao mesmo tempo em que proclamava a necessidade de mudanças e a vontade de realizá-las, lembrava a enormidade dos desafios que enfrentará nos frontes interno e externo. O país passa pela maior crise desde o crash da Bolsa de 1929, há duas guerras em andamento (no Iraque e no Afeganistão) e um forte clima de tensão com o Irã, a Rússia e com os países de esquerda na América do Sul. ;Conversamos muito sobre isso na campanha;, disse Robert Gibbs, um dos principais assessores de Obama. ;Todos precisam saber que nada ocorrerá do dia para a noite. Temos de criar uma expectativa realista do que podemos fazer e os prazos envolvidos.; Joel Benenson, encarregado da análise de pesquisas do Partido Democrata, acha que a opinião pública conhece as dificuldades. ;Ninguém acha que ele é um milagreiro, capaz de resolver uma crise econômica em apenas dois meses.; Peter Guttman, diretor do Centro de Política e Relações Internacionais da Universidade Johns Hopkins, compartilha dessas preocupações: ;Expectativas exageradas podem levar a uma grande decepção. Não devemos achar que esse homem é um novo Messias porque não é. Ele não vai resolver todos os nossos problemas;, enfatizou. Num primeiro momento, Obama terá de se concentrar em soluções para a crise econômica norte-americana. Embora sua eleição tenha despertado reações animadas por todo o mundo, as limitações são claras. Um dos problemas mais sérios da futura administração está no Paquistão. O norte do país, dominado por tribos da etnia pashtun, abriga terroristas da Al-Qaeda e guerrilheiros talibãs, que operam contra as forças de ocupação da Otan no Afeganistão. O novo comandante da área, o general David Petraeus, iniciou uma série de ataques contra as lideranças extremistas, empregando aviões sem pilotos, causando protestos do governo de Islamabad, que convocou o embaixador dos EUA inúmeras vezes para exigir o fim das incursões. Ao saber da vitória de Obama, uma multidão saiu às ruas pedindo o fim dos bombardeios, esquecendo-se que o futuro chefe de Estado norte-americano prometeu caçar Osama bin Laden mesmo que tenha de intervir e ordenar mais ataques aéreos ; e inclusive ofensivas terrestres ; ao Paquistão. Durante a campanha, Obama prometeu a retirada das tropas do Iraque em até 16 meses de mandato, para reforçar as operações no Afeganistão, mas não disse como isso poderia influenciar na segurança do país. O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, parabenizou o presidente eleito na primeira mensagem oficial de boa vontade de um líder iraniano a um futuro chefe de Estado norte-americano. Na mensagem, pediu que os Estados Unidos adotem uma política de não-interferência na região, parem de incitar guerras e tomem medidas para retomar o senso de honra e esperança dos americanos. Mais uma vez, a posição do democrata estava explícita. Ele defende conversações com Teerã, mas insiste no fim do programa de enriquecimento de urânio do regime islâmico, que poderia ter uso militar. Sua receita, já rejeitada pelos líderes islâmicos, é a mesma da União Européia: incentivos econômicos em troca do sucateamento do projeto. Berlusconi polemiza O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, provocou reações adversas em seu país com uma frase politicamente incorreta sobre o futuro presidente dos Estados Unidos. Berlusconi fez uma saudação entusiasmada a Barack Obama, citando entre os atributos do democrata a ;juventude, a beleza e o bronzeado;. O comentário, feito durante um encontro com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, desatou críticas da oposição. O líder do Partido Democrata, Walter Veltroni, acusou o premiê de ;ferir a imagem e a dignidade; da Itália. Berlusconi reagiu dizendo que falta ;senso de humor; à oposição.

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