postado em 09/11/2008 09:52
Um lugar permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esse desejo pode se tornar realidade com a chegada de Barack Obama ao poder. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem discutido o assunto informalmente com seus assessores e, de acordo com a avaliação do grupo, os Estados Unidos estimularão a reforma da ONU. ;Será um retorno a uma ordem multilateral mais equilibrada e justa;, comentou um dos interlocutores do chanceler. De acordo com análises da equipe, vários fatores contribuem para isso. Há uma crise de governança global, com a falência da ordem unipolar estabelecida pelo governo do atual presidente americano, George W. Bush, e do modelo econômico proposto pelos conservadores ligados à Casa Branca.
Para o grupo, o futuro presidente norte-americano tem pouca margem de manobra diante dos problemas que enfrentará. Além de duas guerras, no Iraque e no Afeganistão, há a crise econômica, com uma sucessão de quedas de gigantes financeiros, que causou a intervenção do Estado, por meio de empréstimos ou encampação. Isso implica maior atenção nos assuntos domésticos, abrindo espaço para a atuação de outros países na diplomacia internacional. Além disso, Obama tem uma personalidade mais inclinada ao diálogo, segundo a avaliação do Itamaraty.
Isso, por um lado, facilitará a manutenção do papel brasileiro na estabilidade da América do Sul, ampliando, ao mesmo tempo, a possibilidade de atuação das potências emergentes nas decisões internacionais, inclusive na área econômico-financeira. O G-8 ; formado pelos oito países mais industrializados e a Rússia ; e o G-20 ganharão importância na próxima administração americana, de acordo com fontes do Ministério. Por outro lado, aguarda-se pouca mudança nas relações comerciais de Washington com a América Latina e, especificamente, com o Brasil, principalmente no campo da agroindústria.
Protecionismo
Nos Estados Unidos, cabe ao Senado estabelecer as relações exteriores e comerciais. O Congresso reflete as pressões dos produtores rurais de cada unidade da federação, que se transformam em subsídios internos e taxas e cotas para importações. O Executivo pouco pode fazer além de sugerir mudanças. A crise econômica, no entanto, abre uma expectativa nova. ;Nesses períodos;, avaliou um diplomata ligado ao chanceler, ;o protecionismo é contraproducente;. Por isso, o Brasil defende um acordo na Rodada de Doha como única saída viável para a questão.
Mesmo assim, uma postura mais favorável ao livre comércio beneficia o Brasil por dois motivos. Primeiro, porque abre o mercado americano a uma maior quantidade de produtos brasileiros. Em segundo lugar, cria condições para que as barreiras comerciais sejam diminuídas em âmbito mundial.
Em relação ao etanol, o Itamaraty considera que não haverá melhorias. Os EUA cobram uma sobretaxa de US$ 0,54 sobre o barril do produto brasileiro, com a justificativa de que precisam proteger o produtor americano. ;Obama anunciou que era favorável a um aumento na taxa e deverá cumprir sua promessa de campanha;, disse um diplomata. ;Nesse ponto, John McCain estava mais próximo de nossos interesses.; O estado de Iowa, uma das bases eleitorais de Obama, é um dos maiores produtores de milho do país, outra grande fonte de produção de álcool combustível, e que compete com o produto brasileiro.