postado em 13/11/2008 15:33
Cidade do Vaticano - O Papa Bento XVI recebeu nesta quinta-feira pela primeira vez em audiência privada no Vaticano o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em seguida, participou do ato de assinatura de um acordo que mantém o ensino da religião nas escolas públicas brasileiras.
O Sumo Pontífice recebeu o presidente do Brasil na porta de seu escritório privado no segundo andar do palácio apostólico e ficou reunido com ele por 24 minutos. "O cordial encontro consistiu em uma frutífera troca de opiniões sobre temas da atualidade internacional e regional", afirmou o Vaticano em comunicado.
Ambos conversaram, também, sobre a situação do Brasil, "em particular sobre as políticas sociais adotadas para melhorar a vida das pessoas que vivem inadaptadas e marginalizadas", precisa o texto. Bento XVI e Lula analisaram o "papel chave da família na luta contra a violência e a deterioração social".
O Pontífice recebeu Lula com um "muito obrigado presidente pelo acordo que será assinado em breve", uma referência à assinatura oficial no mesmo palácio apostólico do novo estatuto da Igreja Católica no Brasil. Depois do encontro privado, na presença de uma tradutora, o presidente brasileiro apresentou a delegação que o acompanha, encabeçada pela esposa, Marisa Letícia, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Ao final da cerimônia, aconteceu a tradicional troca de presentes. O presidente brasileiro presenteou o Papa com uma cerâmica de Manuel Eudócio, que representa uma família de imigrantes do nordeste pobre do Brasil, enquanto que o pontífice deu-lhe um estojo com uma elegante caneta lavrada. "Eu o espero de novo no Brasil", se despediu Lula, ao que o pontífice respondeu com um simples: "Espero que sim". Durante o encontro o Papa agradeceu publicamente ao presidente brasileiro pela assinatura do acordo que mantém o ensino da religião nas escolas públicas de seu país.
A visita de Lula ao Papa acontece 18 meses depois da primeira viagem do pontífice alemão à América Latina, realizada no Brasil em maio de 2007. O acordo sobre o ensino de religião é fruto de intensas negociações diplomáticas com o maior país católico do mundo: 125 milhões de fiéis em 186 milhões de habitantes. A Santa Sé pressionava há vários anos para que se concretizasse esse acordo, que também garante o ensino dos demais credos.
Depois do encontro particular, Lula e sua delegação se reuniram na Sala do Tratado para o ato solene de assinatura, que durou cerca de meia hora e à qual também assistiu o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, assim como o ministro das Relações Exteriores da Santa Sé, Dominique Mamberti e seu colega brasileiro, Celso Amorim.
O acordo é composto de 20 artigos que abordam vários setores, entre eles "o estatuto jurídico da Igreja católica no Brasil, o reconhecimento dos títulos de estudo eclesiásticos, assim como o matrimônio católico", precisou o Vaticano.
"Quero enfatizar que não são estipulados privilégios porque não se pode chamar de privilégio o reconhecimento de uma realidade social tão importante como é hoje em dia a Igreja católica no Brasil", afirmou Mamberti em seu discurso, no qual enfatizou a satisfaçao da Igreja pelo acordo alcançado.
O diplomata da Santa Sé destacou que o pacto "não afeta em nada os cidadãos de outros credos, já que garante o pluralismo religioso, assim como a laicismo saudável". Por sua parte, o chanceler brasileiro recordou a "pluralidade étnica, cultural e religiosa de seu país, assim como o papel desempenhado pela Igreja para a redemocratização do Brasil e a favor da proteção e promoção dos direitos humanos".
"Acho que é um acordo histórico porque regulamenta todos os aspectos jurídicos da Igreja, que conviveu muitos anos tranqüilamento no Brasil", declarou à imprensa o cardeal Claudio Hummes, também que assistiu à cerimônia.
Para um dos mais empenhados negociadores do tratado, o núncio apostólico da Santa Sé no Brasil, monsenhor Lorenzo Baldisseri, a Igreja nesse país "depois de 118 anos conta com bases jurídicas para usufruir da liberdade de expressão", concluiu.