postado em 14/11/2008 07:00
A advogada gaúcha Maria Beatriz Dreyer Pacheco, de 59 anos, descobriu ser portadora do HIV -- o vírus da Aids -- em 1996. Em depoimento ao Correio, ela fala sobre a doença e sobre a suposta "cura" de um soropositivo por meio do transplante de medula
"Não sou cientista. Sou apenas uma advogada e uma pessoa vivendo com HIV. Li a notícia sobre a ;cura; da Aids e percebi que falavam que depois do transplante a pessoa ficou com a carga viral ;indetectável;. Isso necessariamente não quer dizer que houve cura. Todos nós, que tomamos os medicamentos, ficamos com a carga viral indetectável.
Pelo que se sabe, o HIV fica em ;santuários; (locais não alcançados pelos medicamentos). Se efetivamente a pessoa transplantada não vier a ter replicação viral posterior, poderemos então afirmar que houve cura. Mas acho cedo afirmar isto.
Não tenho ilusões de cura próxima, não. Principalmente pela excessiva mutação do vírus. É como aquela frase: quando descubro as respostas, as perguntas já mudaram. Quando acho medicamentos, o vírus já mudou. Prefiro pensar em cuidar do meu tratamento, ter adesão aos medicamentos e me manter saudável.
Apenas isto. Podemos, é lógico, ter uma imensa sorte, e algum cientista descobrir a cura, por acaso. Prefiro não criar expectativas nem ilusões. Que bom que já temos tratamentos, não acha? No meu diagnóstico me deram 18 meses de vida! E já se vão passar 12 anos!
Viver com HIV ainda é difícil, pois convivemos com o preconceito diariamente. É esta, para mim, a única dificuldade que enfrento. No mais, a minha vida é absolutamente normal e igual à de qualquer mulher da minha idade. Durante 10 anos, fui casada com um homem que não tinha o vírus. Fomos muito felizes.
Há pouco mais de dois anos ele morreu de câncer. Mas o preconceito de algumas pessoas faz com que afirmem que meu marido morreu de Aids. Estas coisas nos fragilizam muito, pois sempre querem, de alguma maneira, nos transformar em ;monstros perigosos; e nocivos. Somos apenas humanos, como todas as pessoas."