Mundo

Líder rebelde quer negociar cessar-fogo com governo de Kinshasa

;

postado em 16/11/2008 15:42
JOMBA - O líder guerrilheiro Laurent Nkunda declarou neste domingo (16/11) que está disposto a negociar com as autoridades da República Democrática do Congo (RDC), presidida por Joseph Kabila, para obter um cessar-fogo no leste do país, onde os combates não dão trégua. "Nós queremos entrar em contato com nossos adversários para obter um cessar-fogo", afirmou Nkunda depois de uma reunião de quase duas horas com o emissário da ONU para o leste da RDC, Olusegun Obasanjo. O encontro aconteceu na cidade de Jomba, 80 km ao noroeste de Goma, capital da região de Kivu Norte, perto da fronteira com Ruanda e Uganda. O chefe insurgente voltou a reiterar que respeita o cessar-fogo proclamado unilateralmente por seu movimento no dia 29 de outubro. "Nós possibilitamos a abertura de corredores humanitários", acrescentou em uma entrevista coletiva, lembrando um de seus compromissos anteriores. "Hoje é um grande dia para nós, porque perdíamos muitos homens, mas agora temos uma mensagem de paz. Devemos trabalhar para esta missão de paz", concluiu. Já Obasanjo declarou que agora sabe o que Nkunda deseja. "Sei que um cessar-fogo é como dançar um tango: não pode existir apenas um que respeite o fim das hostilidades". O emissário da ONU anunciou ainda ter fechado um acordo com o líder rebelde para criar um comitê tripartite para fazer com que o cessar-fogo seja respeitado. "Nkunda reiterou que acredita em um cessar-fogo aplicado e respeitado pelas duas partes", afirmou Obasanjo. "Quer que o governo assuma a responsabilidade do cessar-fogo em nome dos que considera aliados de Kinshasa", acrescentou o ex-presidente nigeriano, em uma referência aos grupos armados que combatem junto ao Exército congolês. "Eu expliquei que não é possível assumir responsabilidade pelos atos de seus aliados". "O comitê será composto por um membro do CNDP (Congresso Nacional para a Defesa do Povo, rebelião) e por um representante do governo. Quanto ao terceiro membro, pensei na MONUC (Missão da ONU na RDC), mas Nkunda questionou enquanto instituição". "Porém, ele não apresentou objeções a um indivíduo da MONUC", completou o enviado especial da ONU. O emissário da ONU chegou de helicóptero a Jomba procedente de Goma e foi recebido com um caloroso aperto de mãos por parte de Nkunda. Nenhum dos vários emissários que viajaram nas últimas semanas ao antigo Zaire havia conseguido um encontro com o líder rebelde. Nkunda, de etnia tutsi e antigo general do Exército congolês, trocou o tradicional uniforme militar por um terno cinza claro, camisa branca e gravata vermelha para receber o ex-presidente nigeriano Obasanjo. Na chegada, Obasanjo passou em revista as tropas rebeldes do CNDP, antes de entrar, ao lado de Nkunda, no pequeno edifício em que aconteceu a reunião. As tropas rebeldes estão ativas há vários anos no leste da RDC. No final de agosto os combates foram retomados entre o Exército congolês e o CNDP, violando um cessar-fogo decretado em janeiro. Nas últimas semanas, os rebeldes infligiram derrotas humilhantes ao Exército. Desde o fim de outubro, estão posicionados a 15 quilômetros de Goma e há vários dias a 20 quilômetros de Kanyabayonga (100 km mais ao norte), um enclave estratégico para o acesso ao norte da região de Kivu Norte. Antes da reunião entre Obasanjo e Nkunda foram registrados combates violentos entre os dois lados a 20 quilômetros de Kanyabayonga, controlada pelo Exército congolês. Os combates provocaram uma situação humanitária catastrófica, com mais de 250 mil pessoas deslocadas, a maioria sem qualquer assistência das organizações humanitárias por causa da insegurança reinante. Os confrontos prosseguem apesar da trégua unilateral declarada pelo CNDP, o que faz com que cada lado culpe o outro pela crise. Segundo Obasanjo, Nkunda também concordou com a manutenção dos corredores para enfrentar a crise humanitária, desde que o governo acabe com seus postos de controle.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação