postado em 17/11/2008 18:00
Um acordo de segurança que prevê a retirada das tropas dos Estados Unidos do Iraque até o final de 2011 terá um grande teste no Parlamento do país nesta semana. A medida foi aprovada pelo gabinete iraquiano no domingo. O texto precisa ser aprovado pelo menos por 51% dos 275 membros do Parlamento. Nesta segunda-feira, mais de dois terços do parlamentares compareceram à sessão, o que aumentou a confiança do governo de que o tratado será aprovado em 24 de novembro. O texto do pacto foi lido hoje para os parlamentares. O pacto estabelece os termos para uma continuada presença militar norte-americana no país, após o mandato da Organização das Nações Unidas (ONU) expirar no fim deste ano.
Os opositores afirmam, porém, que é necessária uma maioria de dois terços para passar o texto. Somente depois disso o documento pode ser firmado pelos países. Em Washington, a Casa Branca saudou a aprovação da medida pelo gabinete. O tema é uma das prioridades do presidente George W. Bush, no fim de sua administração. Os parlamentares discutiam hoje o texto e eles não podem alterar a proposta, apenas aprová-la ou rejeitá-la integralmente.
As duas maiores forças no Parlamento iraquiano - a Aliança Iraquiana Unida Xiita e o bloco Curdo - têm votos para aprovar o texto por uma maioria de 51%, segundo o parlamentar xiita Sami al-Askari. Com perto de 65% dos votos, os dois blocos estariam próximos de uma maioria de dois terços, caso necessário.
O Irã e a Síria, adversários de longa data dos EUA, afirmaram antes que uma rápida retirada das forças norte-americanas seria a melhor solução. Mas hoje, o chefe do sistema judiciário do Irã o aiatolá Mahmoud Hashemi Shahroudi, disse que o gabinete do governo iraquiano agiu "muito bem" em aprovar o pacto. Ele disse esperar que os EUA retirem as tropas do Iraque no prazo estabelecido no tratado, ou seja, até o final de 2011.
Já o ministro da informação da Síria, Mohsen Bilal, criticou o pacto, ao dizer que ele é um "prêmio aos ocupantes" do Iraque. Um jornal do governo sírio também alertou que o tratado entre os EUA e o Iraque dará a Washington "mão-livre" para interferir nos assuntos dos países vizinhos. O ministro sírio disse que, ao invés de "recompensar" os norte-americanos, os iraquianos deveriam ter obtido um pedido de desculpas deles pela destruição provocada no país. "Não deveríamos recompensar os ocupantes. Ao contrário, eles (os EUA) deveriam pedir desculpas pelos danos que causaram ao Iraque", disse Bilal à Associated Press.
Pacto
Entre as cláusulas no pacto atual, os EUA deverão retirar todas as tropas do Iraque até 1º de janeiro de 2012. Todas as tropas norte-americanas deverão ser retiradas das cidades iraquianas até 30 de junho de 2009. Os EUA não podem usar território iraquiano para atacar países vizinhos, como a Síria ou o Irã, e além disso o judiciário do Iraque pode julgar soldados e mercenários dos EUA que cometerem crimes sérios contra cidadãos iraquianos, fora das bases militares norte-americanas e fora de serviço.
As eleições nos EUA complicaram as negociações. Alguns funcionários iraquianos disseram que talvez fosse possível obter um acordo mais favorável durante a administração Barack Obama. Um assessor de Obama disse que ele concorda em princípio com o acordo e prefere que ele seja concluído antes de sua posse, em 20 de janeiro.
O mais influente clérigo iraquiano, o aiatolá Ali al-Sistani, disse no sábado que não se oporia ao pacto, caso ele fosse aprovado por uma maioria folgada no Parlamento. O clérigo, nascido no Irã, poderia botar o acordo a perder caso fizesse críticas. Alguns partidos xiitas condicionaram sua aprovação à opinião de al-Sistani.
Caso o texto não seja aprovado, após o mandato da ONU expirar, em 31 de dezembro, os EUA não teriam fundamento legal para permanecer no Iraque. As tropas com isso teriam que regressar às bases, em um primeiro passo para deixar o país. Com informações da Associated Press e da Dow Jones.