postado em 18/11/2008 14:58
MOSCOU - O presidente russo Dimitri Medvedev, que esta semana iniciará uma viagem por quatro países da América Latina - Peru, Brasil, Venezuela e Cuba -, busca impor-se como um ator internacional de primeiro nível e desafiar em sua área de influência os Estados Unidos, em represália à crescente participação americana em assuntos do Cáucaso.
A viagem de Medvedev, que tem início na sexta-feira no Peru, inclui uma participação no final de semana com os líderes reunidos na cúpula do Fórum de Cooperação Econômica do Pacífico Asiático (Apec), entre eles o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o presidente chinês, Hu Jintao.
Depois, o chefe do Kremlim segue para o Brasil, quando se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De lá, Medvedev vai à Venezuela. O ponto mais curioso do percurso talvez seja a passagem do presidente russo por Cuba, mítico aliado da União Soviética durante a Guerra Fria e eterno inimigo comunista dos Estados Unidos.
Para deixar a visita ainda mais parecida com uma provcação, a marinha russa realizará manobras conjuntas com a Venezuela no mar do Caribe, durante as quais pretende demonstrar que os relatórios publicados há uma década alardeando sua decadência não condizem com a verdade, informaram os representantes.
A estratégia de Medvedev, orquestrada por seu mentor e antecessor Vladimir Putin, atual primeiro-ministro russo, ressucita as tensões da Guerra Fria, e agora bem debaixo do nariz dos americanos, segundo os analistas.
Com esta viagem, a Rússia mostra "o aumento de seu interesse em apliar sua influência global, principalmente no continente que Washington considera como dentro de sua tradicional esfera de influência", estimou Yevgeny Volk, representante do centro americano de pesquisas Heritage.
Em declarações à agência RIA Novosti na segunda-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou que os laços de seu país com a América Latina e a região caribenha não dependiam de "terceiros países", referindo-se aos Estados Unidos.
A mídia russa tem relatado que os recentes exercícios navais e aéreos realizados em conjunto por forças russas e venezuelanas eram uma resposta direta às iniciativas dos Estados Unidos para ampliar seu escudo antimísseis perto das fronteiras russas na Europa central.
A aquisição de armas russas pela Venezuela também gerou preocupação entre seus vizinhos Colômbia e Estados Unidos, temerosos que Hugo Chávez decida iniciar uma corrida armamentista no sul do continente americano.
O jornal russo Kommersant anunciou que, durante sua visita, Medvedev negociará novas vendas de armas russas à Venezuela, incluindo escudos antiaéreos e caças.
O ministro cubano das Relações Exteriores, Felipe Perez Roque, disse por sua vez que o objetivo dos laços com a Rússia no setor militar era "reforçar o potencial defensivo de Cuba".