postado em 19/11/2008 12:45
WASHINGTON - Os sinais que apontam para a nomeação de Hillary Clinton como secretária de Estado americana estão provocando um torrente de perguntas sobre as motivações e visões do presidente eleito Barack Obama em termos de política externa.
O ex-presidente americano Bill Clinton já se ofereceu para submeter suas atividades a uma revisão ética e identificar os doadores de sua fundação de caridade caso sua esposa seja nomeada secretária de Estado para sanar eventuais conflitos de interesse se Hillary for indicada como chefe da diplomacia americana.
Os analistas políticos de Washington fazem todo tipo de especulações sobre a possibilidade da nomeação de Hillary, figura política influente e que há pouco tempo qualificava de "ingênua" a proposta de Obama de negociar sem condições com o Irã. Agora, pode ser ela mesma a responsável de preparar o degelo das relações com Teerã.
Alguns analistas elogiam Obama por preparar uma equipe forte de gabinete; outros questionam se tamanho caldeirão de egos pode coexistir ou se pode se transformar em uma luta política interna destrutiva. A tensão continua prevalecendo entre setores dos lados de Hillary e Obama, apesar da intensa campanha pelo presidente eleito realizada pela ex-primeira-dama antes da vitória de 4 de novembro.
Por isto muitos se perguntam o grau de confiança e de afinidade entre os dois antigos rivais. Não está claro se Obama e Hillary tentarão cada um manter o controle do Departamento de Estado ou se já conversaram sobre funcionaria a relação em termos de autoridade e acesso.
O que acontecerá, além disso, com Bill Clinton, caso seus contatos em todo o mundo com ex-presidentes, doadores e personalidades influentes complicarem a tarefa da esposa ou provocarem um conflito de interesses? Dessa maneira, Bill Clinton teria aceitado tornar públicos todos os nomes de novos doadores de sua fundação e de todos os que contribuíram no passado com ela.
O ex-presidente também solicitará a autorização do governo de Obama antes de aceitar compromissos de participação paga em seminários ou futuras doações a sua biblioteca presidencial e sua fundação Clinton Global Initiative. "Clinton quer ser tão transparente quanto deseja a equipe de Obama", afirmou uma fonte.
Apesar da contundência política da ex-primeira-dama e candidata a presidência, os analistas consideram que Obama poderá manter um controle firme da situação se a nomear para o comando da diplomacia americana. "É uma pessoa suficientemente segura de suas capacidades para não temer a entrada de uma antiga rival em seu gabinete", afirmou Andrew Bacevich, professor de Relações Internacionais na Universidade de Boston.
"Nas últimas administrações, o centro de poder em política externa se concentrou na Casa Branca, que teve preponderância no momento de coordenar as diferentes agências governamentais para enquadrar a postura dos Estados Unidos frente ao mundo", acrescenta.
Alguns comentaristas se perguntam qual a razão de Obama querer incluir Hillary em seu governo, diante das turbulências que ainda existem entre seus partidários. "Obama não tem por quê aplacá-los, não tem nenhum sentido que a transforme em sua secretária de Estado para deixar felizes os partidários dela", afirma Bacevich.
O professor considera que a senador por Nova York é uma líder com uma visão tradicional que poderia reorientar as relações externas depois da tumultuada era Bush, mas que de maneira alguma isto mudará a ortodoxia diplomática dos Estados Unidos.
Obama sabe que Hillary tem a reputação de ser mais partidária da linha dura que ele e, por este motivo, pode representar uma cartada para executar políticas controversas, como uma aproximação com o Irã.
Além disso, em meio a crise financeira, ter alguém com a inteligência e a estatura de Hillary para representá-lo diante do mundo pode ser uma idéia atraente. "Hillary supera o restante dos candidatos ao posto", afirma David Rothkopf, especialista em segurança nacional. Atualmente, a equipe de transição de Obama está investigando os antecedentes e as finanças do casal Clinto para ver se existem impedimentos à nomeação.
Alguns analistas consideram que há mais cálculos em jogo. "Hillary Clinton terá muitas dificuldades para criticar a administração Obama se fizer parte dela", opina Costas Panagopoulos, da Universidade de Fordham, que já trabalhou na equipe da senadora por Nova York.