postado em 20/11/2008 16:08
O governo do Paquistão convocou hoje a embaixadora dos Estados Unidos em Islamabad, Anne Paterson, para protestar formalmente contra um suposto ataque americano de mísseis dentro do território paquistanês. Houve também manifestações de um grupo militante islâmico paquistanês, que ameaçou atacar os estrangeiros que vivem no país caso os EUA não parem de lançar mísseis contra vilarejos perto da fronteira com o Afeganistão.
As reações mostram os riscos que Washington passou a enfrentar, a partir do momento que decidiu eliminar combatentes do movimento fundamentalista Taleban e da rede terrorista Al-Qaeda com ataques de mísseis a bases no Paquistão, mas perto da fronteira afegã. O descontentamento dos paquistaneses se manifesta no mesmo momento em que oficiais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos EUA no Afeganistão informam que aumentou a cooperação do Exército do Paquistão no combate ao terrorismo.
Desde agosto, Washington realizou 20 ataques com mísseis dentro da fronteira paquistanesa, mas hoje foi a primeira vez que o ataque de mísseis ocorreu fora das regiões tribais de fronteira, já em região mais interna do território paquistanês. Pelo menos seis pessoas foram mortas, informou a inteligência paquistanesa. O primeiro-ministro do Paquistão, Yousuf Reza Gilani, tentou acalmar parlamentares descontentes com a ação. Ele espera que os ataques sejam encerrados, ou pelo menos controlados, quando o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, tomar posse em 20 de janeiro.
"Eu acredito que essas coisas estão ocorrendo por causa do período de transição. Eu tenho certeza que quando o governo do senador Obama for formado, ataques como esse serão controlados", disse Gilani. Obama não falou diretamente sobre as incursões, mas seus comentários sobre o Paquistão durante o período eleitoral foram bastante duros, o que indica que as esperanças de Gilani talvez sejam frustradas. Hoje, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão convocou Paterson para protestar formalmente contra os ataques.
Soberania
"Foi sublinhado à embaixadora americana que esses ataques são uma violação à soberania do Paquistão e minam os esforços do governo na luta contra o terrorismo", informou o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão em comunicado. Uma porta-voz da Embaixada dos EUA disse que o protesto foi enviado a Washington. Enquanto isso, o líder militante Hafiz Gul Bahadur pediu aos seus subordinados que lancem ataques suicidas contra estrangeiros e alvos do governo ao redor do Paquistão.
"O governo paquistanês está claramente envolvido nesses ataques, feitos por aviões espiões americanos, então nós atacaremos alvos do governo, assim como estrangeiros", disse Ahmedullah Ahmedi, porta-voz de Bahadur. O Paquistão tem assistido a um forte aumento nos ataques suicidas nos últimos 18 meses e atualmente as tropas do governo lutam contra os insurgentes na região tribal de Bajur.
Em operações ontem e hoje, ataques de helicópteros do exército paquistanês mataram 17 insurgentes em Bajur, informou Jamil Khan representante do governo na região. Também hoje houve um ataque de homem-bomba a uma mesquita onde tribos favoráveis ao governo estavam rezando, na mesma região. O ataque deixou oito mortos, informaram um chefe policial da região, Fazal Rabi, e o médico Karim Khan, que trabalha no hospital local.