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Cirurgião usa cola para corrigir malformação fatal no cérebro de britânica

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postado em 22/11/2008 09:00
A genialidade de alguns é capaz de modificar o destino de outros. A britânica Laura Honeyman, de 29 anos, depositava a vida da filha nas mãos do cirurgião francês Pierre Lasjaunias. Se não fosse socorrida, a menina Ella-Grace, então com 11 meses, poderia ter um aneurisma e morrer ou desenvolver uma insuficiência cardíaca fatal. Caso sobrevivesse, o risco era de hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro), o que provocaria retardo mental. O bebê nasceu com um defeito arteriovenoso no cérebro conhecido como malformação da veia de Galeno (VGM, pela sigla em inglês). A doença causa pequenos buracos nos principais vasos sangüíneos do órgão e afeta poucas centenas de pessoas em todo o mundo. As mãos de Lasjaunias cumpriram seu papel ; ele operou a criança em 26 de junho ;, mas um ataque cardíaco fulminante encerrou a carreira do médico seis dias depois da cirurgia. O destino colocou Nova York no caminho de Ella-Grace. Foi lá que o neurocirurgião mexicano Alejandro Berenstein, do Hospital St. Luke;s-Roosevelt, usou uma supercola e salvou a menina, em 12 de novembro passado. ;Eu e meu marido, Ryan, sabíamos que a supercola era o único tratamento para ela. Sabíamos que havia riscos imensos, qualquer movimento em falso seria fatal e a cola, uma vez misturada ao sangue, seca instantaneamente;, afirmou Laura ao Correio, por telefone, de Norfolk (Reino Unido). A cirurgia custou US$ 61,5 mil, arrecadados por vizinhos e familiares. A solidariedade deu certo. ;Grace está sorrindo e se recupera bem . É uma criança normal e esperamos que continue a ter sucesso, apesar de sua rara e perigosa condição;, disse a mãe. Por telefone, Berenstein contou que escolheu a supercola de nome n-butil cianoacrilato ; substância usada na Super Bonder ; para reparar o defeito no cérebro do bebê. Para explicar o procedimento, ele comparou os vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares) a galhos de uma árvore. ;As artérias mais distantes do coração são os galhos menores. Nos minúsculos capilares, o sangue circula a uma pressão de 30mm de mercúrio;, explicou. ;No cérebro de Ella-Grace, as artérias se conectam às veias por meio de uma fístula e não há capilares.; O sangue entra na veia a uma pressão maior do que a normal. ;O sangue poderia chegar aos pulmões, pela fístula, e matá-la.; O modo encontrado por ele foi diminuir o fluxo sangüíneo em parte da VGM com a supercola. ;Nossos anestesistas baixaram a pressão do sangue de 120mm de mercúrio para 40mm, segundos antes de injetarmos a cola;, afirmou Berenstein. A equipe do neurocirurgião inseriu um catéter na artéria femural de Ella-Grace e, guiada por ultrassom e raios X, chegou à aorta. ;Colocamos um minicatéter nas artérias do peito, fizemos um mapa (angiograma), injetamos a tintura de iodo e introduzimos outro microcatéter da espessura de um espaguete.; O fluxo do sangue auxiliou na manipulação do tubo até 0,5cm da fístula, antes que o n-butil cianoacrilato fosse disparado. A substância havia sido usada, em forma de spray, para fechar feridas causadas por mísseis durante a Guerra do Vietnã, na década de 1960. ;Ella-Grace terá de se submeter a uma ou duas cirurgias semelhantes no futuro;, disse o médico.

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