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ElBaradei pede cautela ao julgar programa nuclear sírio

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postado em 25/11/2008 16:45
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, pediu a diplomatas lotados na entidade que tenham cuidado, não façam prejulgamentos sobre o programa nuclear da Síria e usou como exemplo as falsas acusações norte-americanas de que o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein mantinha armas de destruição em massa, segundo declarações reveladas hoje, após ElBaradei participar ontem de uma reunião a portas fechadas da diretoria da AIEA em Viena. Ele não mencionou nominalmente os Estados Unidos. Mas o fato de o diretor-geral da AIEA ter-se referido especificamente a programas de armas de destruição em massa supostamente mantidos por Saddam deixou claro que a crítica era direcionada a Washington. Os comentários de ElBaradei refletem a tensão no debate sobre se a Síria estaria apta a receber assessoria técnica da entidade em um momento no qual o país é investigado por suspeita de promover atividades atômicas em segredo. Nos meses que antecederam a invasão do Iraque, os EUA acusaram aquele país de manter programas de armas químicas, biológicas e nucleares sem que houvesse confirmação da denúncia pelos inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU), à qual é subordinada a AIEA. "Houve acusações contra o Iraque que provaram-se falsas, mas somente depois de uma terrível guerra", declarou ElBaradei depois de os EUA e seus aliados terem questionado o direito da Síria de obter ajuda da AIEA para o desenvolvimento de um reator nuclear destinado à produção de energia elétrica. "Existe uma coisa chamada investigação e outra chamada prova cabal de inocência ou culpa. E todos vocês, mesmo os que não são advogados, sabem que as pessoas e os países são inocentes até que se prove o contrário. Os EUA e seus aliados defendem que um país sob investigação da AIEA não deve ser considerado apto a receber assistência técnica. ElBaradei discorda e sustenta que não há base legal para cancelar ou suspender o programa de assistência à Síria. Na ocasião da invasão do Iraque, ElBaradei era um dos principais céticos a questionar as acusações levantadas pelo governo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, hoje em fim de mandato. As supostas armas iraquianas jamais vieram a ser encontradas. Um relatório da AIEA divulgado na semana passada informou que havia partículas de urânio numa instalação militar síria bombardeada por Israel no ano passado. Washington acusa Damasco de ter usado o local como parte de um programa nuclear bélico desenvolvido em segredo. A Síria, que é signatária do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e possui um reator de pesquisas, nega a promoção de atividades atômicas sob sigilo.

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