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Cerco a extremistas continua em Mumbai; há mais de 150 mortos

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postado em 28/11/2008 18:40
As forças indianas mantinham, nesta sexta-feira (28/11), o cerco aos islamitas armados, que estão entrincheirados em Mumbai, dois dias após ataques espetaculares acompanhados de tomada de reféns, que deixaram mais de 150 mortos, sendo pelo menos 17 estrangeiros, na capital econômica da Índia. De acordo com a imprensa local, o número de mortos seria de 155 até o momento, além de 327 feridos. Já a agência de notícias Press Trust of India, que cita o ministro do Interior, Sri Prakash Jaiswal, diz que esse número pode passar de 200. Os comandos das forças especiais continuam lutando para retomar o controle da situação, ainda muito confusa, mesmo depois que a polícia anunciou o fim das operações no Oberoi/Trident, um hotel de luxo atacado na quarta-feira à noite, ao mesmo tempo que um outro palácio-hotel, o Taj Mahal. Por volta das 18h GMT (16h de Brasília), ainda não era possível saber quantos terroristas continuavam em liberdade e quantas pessoas ainda eram mantidas como reféns, após a libertação de dezenas deles, principalmente, cidadãos estrangeiros. Segundo um diplomata do governo de Israel, cinco reféns israelenses foram mortos em um centro religioso judaico ortodoxo. De acordo com nota divulgada pelo Chabad-Lubavitch, um rabino e sua mulher foram mortos. De nacionalidade americana, esses novos óbitos elevaram para quatro o número de vítimas dos Estados Unidos. O rabino Gavriel Holtzberg, que nasceu em Israel mas morava em Nova York desde a infância, e sua mulher, Rivka, também israelense, dirigiam o Chabad-Lubavitch de Mumbai e foram mortos durante os ataques, acrescentou o comunicado. O filho pequeno do casal, Moshe, foi salvo na hora do atentado pela babá. "Gabi e Rivky Holtzberg fizeram o sacrifício máximo", disse o rabino Moshe Kotlarsky, que trabalhava no braço educacional do Beit Chabad-Lubavitch. "Como emissários em Mumbai, Gabi e Rivky abriram mão dos confortos que tinham no Ocidente para difundir o orgulho judaico em um lugar do mundo muito freqüentado por turistas israelenses", homenageou o texto. O assalto foi realizado por unidades de elite de indianos mascarados, deixados sobre o telhado do prédio por um helicóptero. Houve troca de tiros e, no início da noite, a operação teve fim, com uma série de fortes explosões abalaram o imóvel. Pouco depois disso, os comandos reapareceram, ovacionados por uma multidão de indianos reunida nos arredores. Além disso, intensas trocas de tiros foram ouvidas nos arredores do Taj Mahal, onde o Exército invadiu, com granadas, para desalojar um, ou vários islamitas. A polícia anunciou que explosivos foram descobertos no estabelecimento. A Índia acusa abertamente o Paquistão, seu vizinho e rival, de estar por trás desses ataques coordenados e muito bem orquestrados, que atingiram uma dezena de alvos em Mumbai, uma cidade com 13 milhões de habitantes. Islamabad continua a negar, de forma veemente, qualquer envolvimento. Autoridades ocidentais relacionam os ataques à rede terrorista Al-Qaeda. De acordo com um funcionário do alto escalão do governo indiano, os islamitas responsabilizados pelos atentados teriam feito, com antecedência, um estoque de armas e explosivos em um dos hotéis que tinham como alvo. O serviço indiano de inteligência prendeu um extremista identificado como Abu Islami. Ele teria reservado um quarto no hotel Oberoi/Trident, aonde chegou quatro dias antes de outros membros do grupo desembarcarem em Mumbai pelo mar. "Ele veio bem antes da chegada, por navio, de outros terroristas", declarou este dirigente do Intelligence Bureau que preferiu não ter seu nome divulgado. "Simplesmente, usou o quarto do hotel para armazenar os explosivos", entre eles 40 granadas, "e armamentos, para uma ação de longo prazo", acrescentou. Segundo a mesma fonte, cartões de crédito e uma carteira de identidade expedida pelas Ilhas Maurício, no Oceano Índico, foram apreendidas no quarto ocupado pelo extremista detido. Os atentados visavam, sobretudo, aos estrangeiros, mais especificamente hóspedes americanos e britânicos de ambos os hotéis, símbolos da riqueza de Mumbai, assim como o centro judaico. Os terroristas, armados de fuzis automáticos e de granadas, tinham ainda alvos indianos, como a estação central de Mumbai, onde mataram 50 pessoas. Um hospital que atende crianças e mulheres pobres também foi atacado. Nos hotéis Oberoi/Trident e Taj Mahal, os soldados indianos de elite continuaram, nesta sexta, sua operação pente-fino, explorando um por um das centenas de quartos, em busca dos últimos ativistas. Nove terroristas foram mortos durante as operações, e outro foi preso, enquanto 15 homens das forças de segurança morreram, anunciou o vice-primeiro-ministro do estado de Maharashtra, R.R. Patil. No Oberoi/Trident, onde 93 reféns foram soltos hoje de manhã, a polícia anunciou ter encontrado 24 corpos e declarou que as operações estavam concluídas. Quem conseguiu escapar, incluindo policiais e soldados, relatou as cenas de horror vividas nas últimas horas. "São pessoas sem piedade. Abriam fogo sobre qualquer um que ficasse na sua frente", contou um oficial da Marinha, acrescentando que "havia sangue por toda parte, corpos estendidos em todo lugar". A autoria dos ataques, que atingiram o coração da 10ª potência econômica mundial, foi reivindicada pelo grupo islamita Mujahedine do Deccan, nome do planalto que cobre o centro e o sul da Índia. Em entrevista a uma emissora de TV, um dos terroristas do Oberoi/Trident disse que o grupo reivindicava o fim das "perseguições" aos muçulmanos da Índia, uma forte minoria de 150 milhões de pessoas, vítimas de violência no passado, nesse país de 1,2 bilhão de habitantes, hindus em sua maioria. Segundo a agência de notícias indiana PTI, que cita fontes oficiais, três extremistas, entre eles um paquistanês, foram presos no Taj Mahal. Eles pertenceriam, de acordo com a agência, ao Lashkar-e-Taiba, um grupo islamita com base no Paquistão, conhecido, principalmente, por ter atacado o Parlamento indiano em 2001. Esse atentado colocou Índia e Paquistão à beira de uma nova guerra.

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