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Extremistas se registraram em hotel de Mumbai e dominavam planta dos prédios

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postado em 29/11/2008 10:01
Eles ;varreram; os andares dos hotéis Oberoi Trident e Taj Mahal Palace como se conhecessem a planta dos prédios. Sabiam até quais cômodos tinham câmeras instaladas. Dias antes de realizarem o ataque mais longo da história da Índia ; até as 22h de ontem (5h30 de hoje em Mumbai), haviam se passado 55 horas de ação terrorista ;, pelo menos um dos extremistas deu entrada no Oberoi como hóspede. ;Simplesmente usou o quarto do hotel para armazenar os explosivos, incluindo 40 granadas e armamentos, para uma ação de longo prazo;, afirmou à agência de notícias France-Presse um alto oficial do Intellifence Bureu, o serviço secreto indiano, sob condição de anonimato.


Na suíte do 8; andar, também foram apreendidos vários fuzis automáticos AK-47, uma carteira de identidade expedida pelas Ilhas Maurício, dinheiro e cartões de créditos de cinco bancos. O último balanço dos atentados em série dava conta de 160 mortos, incluindo três alemães, cinco norte-americanos, um italiano, dois franceses, uma cingapureana, um britânico, um japonês, dois australianos e dois isralenses, e 327 feridos. No entanto, as autoridades admitiam que mais de 200 pessoas podem ter morrido.

Até o fechamento desta edição, policiais e soldados tentavam a todo o custo libertar os reféns do Taj Mahal Palace Hotel. O imponente prédio de torres coloniais e 565 quartos servia de refúgio para três extremistas, que resistiam à prisão com explosões de granadas e disparos de fuzis. Lá dentro, os policiais encontraram entre 12 e 15 corpos apenas em um dos quartos. Já no Oberoi Trident, as forças de segurança conseguiram resgatar pelo menos 148 pessoas e retiraram 30 mortos do local.

Uma operação denominada Black Tornado (Tornado Negro, em inglês) foi a responsável pelos momentos mais dramáticos do segundo dia de assalto terrorista a Mumbai. Cerca de 24 soldados foram lançados de helicópteros sobre o telhado do prédio de cinco andares da Chabad House, um centro judaico. Logo depois, barulhos de 10 explosões e de disparos ecoaram pela região e assustaram os moradores. Ao fim da incursão, os militares deixaram o local com fuzis para o alto e as autoridades anunciaram que eles depararam com os corpos de duas mulheres e três homens, inclusive os do rabino Gavriel Holtzberg, de 29 anos, e sua mulher, Rivka, de 28. O casal vivia em Mumbai desde 2002 e dirigia o movimento Chabad-Lubavitch. As mortes foram condenadas com firmeza pela chanceler israelense, Tzipi Livni, para quem o mundo está ;sob ataque;. ;Esse é um recado ao mundo. Nós somos os alvos, e não é apenas Israel, mas todo o Ocidente;, alertou. Entre os cinco norte-americanos assassinados, estão Alan Scherr, de 58 anos, e sua filha Naomi, 13, que participavam de um programa de meditação na Índia.

Em entrevista ao Correio, por telefone, o cingalês Rohan Kumar Gunaratna ; autor de Por dentro da Al-Qaeda: rede global de terror ; advertiu que os ataques em Mumbai podem ser apenas a ponta do iceberg. ;Veremos mais atentados desse tipo na Índia. O sucesso dessa operação vai inspirar vários grupos terroristas a seguirem a ideologia da rede Al-Qaeda;, previu, sem culpar diretamente a organização de Osama bin Laden. O especialista não poupou críticas ao governo de Nova Délhi. ;As autoridades fracassaram, não anteciparam esse nível de ameaça e comprovaram o despreparo para esse tipo de ação extremista;, comentou. Na opinião dele, era essencial a infiltração de agentes da inteligência em vários grupos militantes.

;A comunidade de inteligência e segurança da Índia foi literalmente pega dormindo;, concordou o paquistanês Rifaat Hussein, professor da Universidade Quaid-i-Azam (Islamabad). Segundo ele, foi uma imensa falha da inteligência e da Guarda Costeira indiana, que precisam ser punidas por essa negligência criminosa ao deixarem os terroristas entrarem nas águas do país.

Desespero e alívio
Duas modelos brasileiras viveram histórias de pânico e de alívio, enquanto terroristas semeavam a morte em Mumbai. Por pouco, a mineira Alessandra Luz de Mattos Lopes, de 17 anos, viu o namorado cair na mãos dos extremistas que invadiram o Oberoi Trident Hotel. Em entrevista ao Correio, por telefone, ela contou que o namorado, Santiago Lara Muñoz, de 26 anos, saiu do prédio por volta das 20h30 (13h em Brasília) de quarta-feira, duas horas antes do início do terror. ;Ele começou a receber um monte de ligações dos amigos. Alguns colegas foram tomados reféns;,disse. Alessandra demonstra calma diante dos atentados e admite estar acostumada à tensão, por ter morado muito tempo na Ásia.

Santiago confirma a versão da namorada. Ele lembra que participava de um coquetel no Oberoi. ;Éramos umas 50 pessoas na sala de reuniões e fui um dos primeiros a ir embora;, disse. ;Eu queria ver a Alessandra. Trabalhei muito e não tivemos tempo de ficar juntos, e foi o que me salvou.; O rapaz, funcionário de uma empresa de exportação, recebeu o telefonema de um colega, após deixar o hotel. ;Ele falava inglês, estava preocupado e pensei que eu tivesse sido demitido;, relatou. ;Depois entendi que houve disparos no hotel.; No Rio, Flávia Mattos, de 45 anos, acha que o amor da filha fez com que Santiago se mantivesse vivo. ;Ela teve intoxicação alimentar e, se não fosse pelo apoio dele, a Alê já teria voltado ao Brasil.; Alessandra chegou à Índia em 31 de abril e deve ficar no país por cinco meses.

Tudo o que a capixaba Camila Tavares, 19, queria era retormar a rotina. A capixaba saiu de casa ontem para uma sessão de fotos a meia hora do bairro de Colaba. ;Todos se apavoraram e gritavam, dizendo que ali perto estava pegando fogo;, contou. ;Tivemos de cobrir a cabeça com véus, as lojas fecharam e uma camionete veio correndo nos buscar.; Segundo ela, a TV destacava que os terroristas caçam estrangeiros. ;Temos muito medo de andar nas ruas.; Na noite de quarta-feira, Camila cancelou a balada perto do Café Leopold ; um dos pontos atacados ; porque uma amiga passou mal. (RC)


Extremistas se registraram em hotel de Mumbai

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